O confronto e a amnésia

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Por Ademir Assunção, jornalista e poeta – 

Já está circulando nas redes sociais um firme editorial da Folha de São Paulo contra a contumaz diarreia mental do jagunço que ocupa a Presidência da República do Brasil. Ainda não se sabe se o editorial será estampado na primeira página do jornal, como o foi quando o governo Collor de Mello se tornou insustentável, há quase trinta anos. Se for, será a declaração aberta de confronto com os milicianos que ocuparam o Poder Central.

O editorial da Folha merece ser aplaudido e as ofensas do jagunço contra a jornalista Patrícia Campos Mello repudiadas, com a mesma intensidade. Mas é bom que não se perca a memória.




Não me lembro de editorial semelhante do jornal quando o então deputado federal, que agora ocupa a Presidência da República, dedicou seu voto favorável ao impeachment da Presidenta eleita Dilma Rousseff ao notório torturador Carlos Brilhante Ustra. Não estivessem várias forças do “campo democrático”, incluindo a Folha de São Paulo, a Rede Globo de Televisão e quase toda a grande imprensa, tripulando a nau insensata dos golpistas, o deputado deveria ter saído do Congresso, naquele fatídico domingo, num camburão da polícia.

Acontece que várias forças do “campo democrático” insuflaram o ódio, ajudaram a dividir o país e abriram caminho para o jagunço e suas hostes milicianas. O plano não era alçar o jagunço ao poder, qualquer um com ao menos um olho aberto sabe disso. O plano era emplacar um neoliberal qualquer. Se não desse Geraldo Alckmin, que fosse um João Dória ou um Luciano Hulk. Mas perderam o controle. E deu no que deu.

A destemperança do jagunço era ostensiva antes mesmo de sua subida ao cargo temporário no Palácio do Planalto. E seus atos criminosos contra indígenas, pretos, pobres; seu desmonte acelerado da educação pública, gratuita e universal, suas reformas de maldade contra aposentados, pensionistas e trabalhadores em geral, etc etc etc – reformas, aliás, aprovadas na Câmara e no Senado, não mereceram a mesma resposta firme da Folha de São Paulo.

Se o editorial da Folha for o estopim de uma reação da sociedade contra a bandidagem que tomou o poder, ótimo. Mas que não mergulhemos num sono profundo e esqueçamos quem é quem nesse jogo sujo. Que o levante saia das mãos do andar de cima e se torne uma insurreição verdadeiramente popular. Antes que a máquina nazifascista transforme a República Federativa do Brasil num IV Reich.

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