O contrabaixo está de luto. Acaba de nos deixar Arthur Maia, um dos mais talentosos artistas brasileiros.

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Por Gustavo Conde

Maia é referência máxima para músicos, arranjadores e compositores de todas as tendências. Foi um músico que ultrapassou a fronteira do gênero e se consagrou pela extrema elegância e por um toque delicadamente refinado.




O contrabaixo é a “estrutura” do som, a frequência que funda as irradiações rítmicas e melódicas. O instrumento é, ao mesmo tempo, “condutor” e “expansivo”, a dimensão sonora que dá densidade ao tecido musical, às letras, às acelerações, aos gestos.

Arthur aprofundava ainda mais todas essas dimensões. Era adorado por contrabaixistas, guitarristas e bateristas que sabiam da integração harmônica que ele propiciava em suas gravações e performances.

Com Djavan, ele construiu um universo à parte, integrando-se com sutileza aos timbres e aos ritmos do artista alagoano. Fruto dessa linda parceria é a canção “Alívio”, composta por Arthur, letra e música, e cantada por Djavan.

Com Gilberto Gil, Arthur também participou de uma parceria de gigantes. Na gravação do Acústico da MTV, quem toca com Gil é Arthur Maia. É lindo de ver, inclusive, a reverência de Gil ao talento de Arthur.

São linhas de baixo elegantes, fortemente estruturadas, harmônicas, delicadas. Arthur tinha aquela qualidade tão paradoxal que é o desafio máximo para todo contrabaixista: ser discreto.

Arthur era discreto, mas dentro da sua discrição, ele protagonizava riffs e passagens conceituais. Em outras palavras: a discrição de Arthur era, por vezes, o que mais chamava a atenção nos inúmeros álbuns que gravou com os maiores artistas da música popular.

Sobrinho de Luizão Maia, um dos maiores contrabaixistas do mundo, Arthur vinha de uma família de especialistas na arte: Zé Luiz Maia, filho de Luizão e também um dos nossos maiores talentos, chora hoje a morte do primo com imensa dor.

Quando se morre um amigo, choramos. Quando se morre um familiar, choramos. Quando se morre um parceiro de instrumento que é também familiar e amigo, a perda extrapola os sentidos.

Essa dor, no entanto, pode ganhar uma cifra de continuidade, de espiritualidade musical, histórica e afetiva.

Arthur Maia se junta hoje a Luizão Maia, a Charles Mingus, a Jimmy Garrison, a Charlie Haden e a tantas outras lendas na arte do contrabaixo.

Como diria Guimarães Rosa, as pessoas não morrem, ficam encantadas. Arthur, sinônimo de contrabaixo, passa agora a fazer parte do encantamento assombroso dos jovens talentos que nos deixam para nos querer dizer alguma coisa, para nos querer mostrar o quão frágeis nós somos, para nos fazer memórias vivas de suas próprias existências.

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