Por Anderson Moraes, publicado por Jornalistas Livres –
Um grupo de conselheiros do Corinthians exigiu a retirada da camiseta de vereadora assassinada
Um grupo de conselheiros intitulados Fiéis Escudeiros, um grupo formado por 25 homens brancos que mostra bem a “cara” do brasil de hoje, enviou uma nota ao CORI (Conselho Deliberativo do Clube) exigindo a retirada da camiseta que foi usada por Gustavinho que tinha os dizeres: “Quem matou Marielle?”, no jogo final da Taça Ouro, com vitória do time alvinegro e que levou a disputar o campeonato do NBB (Novo Basquete Brasil é a liga oficial do Campeonato Brasileiro de Basquete).
Mas antes de voltar a retirada da camiseta voltemos no tempo para relembrar que o Sport Club Corinthians Paulista tem em sua história marcantes ações humanitárias, sendo a primeira em sua formação quando abraçou operários e imigrantes em uma época que o futebol era de elite.
Vivesse uma época que a contar história parece ser um “crime” e o que vale são ideias que nascem de gurus fantasiados de intelectuais. Um momento que a repetição da mentira tornasse verdade absoluta e pune quem traz a HISTÓRIA e em detrimento da estória.
O que chama atenção é a aura de ódio que paira quando se fala de direitos humanos, social ou justiça. Ai, leitor e leitora, é como se ofendesse a alma dos de “boa família”, em detrimento de quem apenas deseja o bem viver, como diz a frase que carregam as “Mulheres da Marcha das Mulheres Negras”.
Para uma parcela do país a Marielle Franco é hoje símbolo “comunistas petistas e lacradores” de quem acabou com país. Mas se voltarmos nas ações da vereadora assassinada brutalmente na cidade carioca ela defendia direitos humanos. E o que vem a ser este tal Direito Humano? Percebemos que as pessoas cada dia mais desconhecem o conceito e a definição desse importante instrumento humano de preservação de “direitos relacionados à garantia de uma vida digna A TODAS AS PESSOAS. Os direitos humanos são direitos que são garantidos à pessoa pelo simples fato de ser humana.” (Definição)
Para quem ainda tem dúvida sobre o que é defender causas humanitárias vai mais um pouco do que se trata DH: “Direitos humanos é o conjunto de garantias e valores universais que tem como objetivo garantir a dignidade, que pode ser definida com um conjunto mínimo de condições de uma vida digna. São direitos humanos básicos: direito à vida, à liberdade de expressão de opinião e de religião, direito à saúde, à educação e ao trabalho.”.
Lembram da aula de português quando sua professora ou professor falava de Silogismo? Aí ele lembrava de um bem famoso: “Todo homem é mortal…Sócrates é um homem…Então, Sócrates é mortal”, ou seja, se Marielle Franco luta por Direitos Humanos e Direitos Humanos é para todas AS PESSOAS e você é uma PESSOA, logo, Marielle lutava por você.
Sendo assim quando um grupo de conselheiros formado por homens brancos exigem e obrigam a retirada da camiseta que pede justiça a uma mulher negra que foi violentamente assassinada o Jornal Empoderado pergunta: “Por que Marielle incomoda tanto?”.
Um clube que sempre abraçou refugiados, imigrantes, e teve a Democracia Corinthiana como grande expoente não merece passar por este ato tão antidemocrático.
Por fim, basta lembrar que o mesmo Parque São Jorge que hoje tem em seu conselho homens conservadores que se “incomodam” com uma camiseta de Marielle talvez “não lembre” que o mesmo clube do Parque São Jorge recebeu uma mesa composta de negros e negras para discutir “Consciência Negra”, em 2015, organizada pelo NECO – Núcleo de Estudos do Corinthians. Alguns temas discutidos naquela noite: “O Negro na sociedade brasileira, o racismo no futebol, O Atleta Negro no Corinthians, histórias e perspectivas para o futuro”. O Corinthians fazia ali algo inédito, talvez, na América do Sul.
Uma mesa que tinha o professor e advogado Silvio de Almeida, Professor Juarez Xavier, Jornalista Conceição Lourenço, Anderson Moraes, do Jornal Empoderado e entre outras grandes personas o Wladimir Rodrigues que foi um dos líderes da Democracia Corinthiana.
Então este ato de intolerância e de ódio contra a democracia mostra que estamos em um momento delicado e sombrio, aonde pessoas que se dizem do bem não suportam quem luta por direitos humanos mesmo sendo elas “humanas”.
Mas uma nação que se superou navio negreiro não se caçará nunca frente a desmandos e a barbárie. Pois nosso sangue é de guerra e indignação frente as injustiças. Um povo forjado na linha de Xangò com São Jorge Guerreiro (Ogum).
Não sei se o amigo corinthiano ou a amiga corinthiana, mais atentos ao cotidiano do futebol, tem acompanhado o que acontece na parte de dentro dos muros do Parque São Jorge, mais especialmente no Memorial do Corinthians.
O Sport Club Corinthians Paulista realizou justa homenagem à riquíssima história de seu basquetebol no último sábado e expôs honradamente uma camiseta utilizada por seu atleta Gustavinho na conquista da Taça Ouro no ano passado, que levou o Corinthians à NBB. Por iniciativa do próprio atleta, a camiseta carregava os dizeres: “Quem matou Marielle?”.
Após a exposição da camiseta histórica no Memorial do Corinthians, alguns grupos de conselheiros se organizam para a intervenção na exposição e consequente retirada da camiseta do Corinthians.
O ato se constitui como um episódio de intolerância e de ofensa às liberdades constitucionais de expressão e livre manifestação de ideias.
Mais do que isso, o episódio é revelador. Como tudo no Corinthians é uma amostra do que vem ocorrendo no Brasil. Dá pra ter uma boa noção do buraco em que estamos nos metendo.
A frase estampada na camiseta não denota nenhuma predileção política ou movimento partidário. Demonstra tão somente a valorização da justiça e o desejo que o crime seja apurado com cuidado e rigor.
O fato de Marielle ter sido filiada a um partido de esquerda, nesse caso, é o menos importante. O assassinato bárbaro contra a vereadora carioca não é apenas um episódio de violência urbana – como isso por si só já não fosse grave o suficiente – mas é também um triste caso de violência política e atentado contra a democracia e as garantias institucionais que devem preservar as liberdades e os direitos de todos os cidadãos brasileiros.
O fato de o Corinthians ter em sua história a pluralidade mostra que é um time congrega a paz, união, fraternidade e jamais deve ter em sua história uma posição favorável a injustiça, intolerância e ao preconceito.
O time que hoje higieniza sua arena e seu clube social deve voltar as suas origens não por campanha de marketing, mas por necessidade. Pois sem seu povo, suas Marielles o clube perde o sentido de existir.