Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, no Facebook
O boteco já registrou várias vezes que leva a sério apenas dois institutos de pesquisa, DataFolha e Ibope. E, mais especificamente, confia mais no braço do grupo Folha. Dito isso, algum dos dois levantamentos errou um tico nos estudos publicados com apenas um dia de diferença. Mas no fundamental, como também sempre insistido aqui, os dois coincidem: as curvas ascendentes, o mais importante numa leitura da atual fase da campanha, de Bolsonaro e Haddad são firmes, ao contrário das outras candidaturas, estagnadas dramaticamente ou em queda.
A principal diferença das duas pesquisas é sobre a velocidade do crescimento de Haddad, maior no Ibope, e sobre uma eventual chance maior de Ciro Gomes em eventual segundo turno contra o Coiso. É aí que lamentavelmente os veículos do Grupo Folha deixaram todas as digitais de manipulação na interpretação dos números.
É evidente que existem dois fatos jornalísticos no levantamento, a subida lenta mas alarmantemente consistente do fascista e a atropelada de Haddad no que antes era o segundo pelotão. E não é que a Folha, num exercício criativo e até humorístico, divide a manchete com um esquisito “Ciro lidera no segundo turno”?
Recorrendo a uma expressão muito usada por pessoa queridíssima, “Pois então”… Estamos falando de primeiro turno, Um líder é cada vez mais líder e outro vem de baixo e em uma semana consolida sua curva com apenas 10 dias de campanha.
A Folha evidentemente parece ter desistido, confrontada com seus próprios números, dos nomes mais palatáveis ao mercado e agora ensaia vestir uma camisa contra os “extremos” do fascismo e do petismo. Não, Ciro não tem nada a ver com isso, não articulou nada. Parece que é o próprio grupo de comunicação que ficou no se não tem tu, vai tu mesmo.
O enviesamento da edição é tão ridículo que coube até um quadro “Ciro lidera como segunda opção para os eleitores”, Poxa, que boa notícia para o campo progressista, pensou o trouxa aqui. Até que foi aos números: Ciro (15), Marina (13), Alckmin (12), Haddad (12), Coiso (11)… ou seja, é um dado que tem que comer muito arroz com feijão para chegar ao irrelevante.
Quer o exemplo mais gritante de manipulação jornalística? É, concedamos, um só pequeno escândalo de omissão jornalística: O voto consolidado, aquele em que o eleitor não admite mudança, de Bolsonaro é de 76%.,e o de Haddad, 75%. O de Ciro fica em 43% apenas. Ou seja, a maioria absoluta de seus eleitores (57%) admite trocar o sufrágio até o dia da urna. Só a falta de firmeza no quesito bastaria, para quem sabe ler pesquisa, para desautorizar a viagem da pregação do voto útil.
Enfim, a pesquisa tem números e agora voltamos ao factual, depois de um modesto flagrante de manipulação. Bolsonaro se aproxima de um terço das preferências e Haddad se distanciou na vice-liderança e embica mais. O boteco mantém a aposta de que, se nenhum fato extraordinário, mas bemmm extraordinário mesmo ocorrer, Bolsonaro e Haddad estarão no segundo turno. E repete o mantra: comentários atacando Haddad, Ciro e Boulos serão excluídos.
No caso da edição jornalística que a Folha deu à pesquisa, Ciro não tem responsabilidade alguma. Aqui se tentou, e ousou com a manutenção de palpite, ler os números. E a metade não-burra do gerente percebeu a malandragem da interpretação que o jornal deu à evidência dos números.