Por Fábio Lau, jornalista –
Briguei e me afastei de muita gente, amigos e parentes, por razões políticas. Pela ordem: eleições de 2014 quando aecistas juravam que seu candidato era honesto, competente e democrata. Mais tarde ficou provado que Aécio é corrupto, capaz de matar para fazer valer seus esquemas de corrupção, como ficou claro no episódio da JBS, e, por não aceitar a derrota para Dilma, aliou-se ao que havia de pior na política para deflagar o golpe.
Ele ajudou a criar, com Eduardo Cunha, o Brasil de hoje.
Em 2016 me afastei de amigos, especialmente jornalistas, que reproduziram a cantilena de que o “impeachment “ de Dilma era republicano e constitucional por ter seguido os trâmites legais.
A reprodução da versão patronal, o que tem compromisso com interesses pessoais e corporativos, é de provocar náusea.
Mas hoje entendo que enxergavam ali oportunidade de manutenção ou crescimento profissional.
Abdicaram de um compromisso social e coletivo, maior portanto, para disparar uma espoleta no campo pessoal.
E fizeram do golpe um processo natural de troca de poder. Teriam estado do mesmo lado em 64?
Muitos conseguiram e cresceram – outros, ficaram pelo caminho.
Hoje a própria Justiça começa a reescrever a história e a indicar o potencial do golpe de 2016 e as reais intenções e interesses.
Como ficam com suas consciências?
Não perdi muitos amigos no campo dos que defendem Bolsonaro e ajudaram a elegê-lo. Mas alguns bons amigos. Que desconhecia serem favoráveis à pena de morte, execução de inimigos políticos, racismo, homofonia, misoginia.
Trata-se de uma decepção ainda maior e espero que alguns tenham repensado o rumo que tomaram e enxergado para onde ajudaram a levar o país.
Posso assegurar que todo este tempo estive do lado certo da história.
O que não significa dizer que era o perfeito ou mesmo ideal.
Mas não tenho do que me arrepender.
Muito menos do que me envergonhar.
Ninguém falou por mim: nem amigos, patrões ou interesses pessoais.
Me reconheço um bom brasileiro.
Por que digo isso?
Deu vontade.