O desafio de assistir ao documentário O Dilema das Redes….

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Compartilhado da Revista Fórum – 

Devo afastar meus filhos da internet, se perguntarão muitos dos que assistirão ao filme. Devo jogar fora meu smartphone? Como posso reduzir os danos que essas redes causam?

O crítico e amigo Pablo Villaça fez um post no Twitter na sexta (11) chamando a atenção dos seus seguidores para o documentário O Dilema das Redes que foi recém-lançado pelo Netflix e cujo título original em inglês é The Social Dilemma. Ele tinha razão. É um documentário que precisa ser visto.




Não pretendo aqui roubar do Villaça o espaço da crítica, até porque essa não é a minha praia e nem tenho talento para tanto. Mas me permitirei algumas reflexões de quem tem estudado o assunto nos últimos anos.

Não se pode dizer exatamente que estamos diante de uma obra com temática inédita. Há muita coisa escrita e produzida sobre o assunto. Cito dois filmes que também merecem ser vistos e que se pode encontrar na Netflix: Privacidade Hackeada e Redes de Ódio. (Pausa para um parêntese: gosto muito mais do segundo do que do primeiro. Acho Redes de Ódio mais original, entre outras coisas, por ter sido produzido na Polônia, um país cujo desenvolvimento da extrema-direita é muito parecido com o do Brasil.)

Mas retornando ao O Dilema das Redes, mesmo tendo uma temática semelhante, este documentário é diferente e merece um tanto mais de atenção do que os outros dois para aqueles que querem mais do que se divertir.

Nele, se discute não como o ódio é produzido no indivíduo ou como nossa privacidade individual está em risco. Em O Dilema das Redes o que nos é apresentado é o interior da produção dessas plataformas. Como tanto o designer quanto os algoritmos foram pensados para nos controlar e fazer reproduzir aquilo que eles acham importante a partir da lógica do negócio.
Sim, amigo e amiga, a ideologia é a do dinheiro e não a da direita ou da esquerda.

E durante 1h30 você vai sendo informado por ex-executivos de Big Techs como Guilhaume Chaslot, que ajudou a criar o mecanismo de recomendação de vídeos no YouTube; Justin Rosestein, um dos co-criadores do botão curtir no Facebook; e Tim Kendall, ex-diretor de monetização do Facebook como a máquina de produzir salsichas funciona.

As análises desses ex-funcionários de Big Techs vão sendo intercaladas com excelentes reflexões de Shoshana Zuboff, professora de Harvard e autora de “The age of surveillance capitalism” e Jaron Lenier, filósofo e autor do livro “10 argumentos para você deletar suas redes sociais agora”, uma figura impagável e que lembra um pouco Richard Stalmann, criador do software livre. E também por esquetes ilustrativas do funcionamento das máquinas. Aliás, este recurso utilizado pelo cineasta Jeff Orlowski dá uma dinâmica lúdica e elucidativa às entrevistas que tornam o filme mais pop e mais fácil de ser assimilado.

Mas qual seria a principal reflexão de O Dilema das Redes para além da explicação de como funcionam as plataformas? A do que elas podem gerar danos no comportamento das novas gerações. Este é o grande debate que o documentário traz e que precisa ser realizado com bastante seriedade.

Devo afastar meus filhos da internet, se perguntarão muitos dos que assistirão ao filme. Devo jogar fora meu smartphone? Como posso reduzir os danos que essas redes causam?

Essas questões não podem ser respondidas com o mesmo fanatismo que as redes podem construir em alguns. É preciso debater os efeitos das tecnologias para poder atuar sobre elas. E não para destruí-las.

Até porque seria absolutamente ineficiente recriar um movimento neoludista.

É preciso pensar em regulamentar os algoritmos da mesma forma como se regulamenta o uso da água e do ar. Porque o vale tudo neste segmento pode tornar o mundo absolutamente tóxico e irrespirável. E isso o documentário mostra com bastante força.

Evidente que isso precisa ser feito com a maior participação possível da sociedade e não apenas pelo governo em curso, para que a regulamentação não se torne um controle ainda mais absoluto. Mas é inevitável começar este debate.

Porque hoje os algoritmos decidem inclusive o que você vai ver na Netflix ou que veículo você vai ler na internet. Isso sempre mirando a lógica do lucro. E os interesses da empresa que os produzem.

Sim, tem um livro legal que você pode ler sobre este tema, O Filtro Bolha, de Eli Parisier. Já existem muitas críticas dele por aí e por isso só vou na dica.

Enfim, você precisa assistir ao O Dilema das Redes para pensar em se engajar na luta pela democratização das redes, não para sair por aí destruindo celulares. Reconstruí-las para a democracia e livrá-las do domínio das Big Techs é muito mais complicado, mas é o único caminho que temos.

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