O desrespeito por trás do horário de verão

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 Por Ulisses Capozzoli no Facebook – 

O horário de verão, em vigência mais uma vez, divide as opiniões entre favoráveis e contrários a essa mudança. Acabo de escrever uma linha e já tenho de me corrigir. Há o bloco dos que não tem opinião. O bloco dos que não são contra nem a favor é aquele grupo que, se consultado se deveriam ser fuzilados ou não, não tem opinião. Deveriam ser fuzilados. O horário de verão é macaquice brasileira combinado com doses generosas de despotismo, receita 100% nacional. Deus não é brasileiro por acaso.




O horário de verão é uma manipulação da posição do Sol sobre a cabeça de cada um dos quase 220 milhões de brasileiros. Com o Sol a pino sobre a cabeça de um brasileiro, qual o horário na posição em que ele se encontra? O óbvio meio dia (ainda que para a Folha de S. Paulo sol a pino possa ser 3h00 da tarde), mas no horário de verão é 13h00. O horário de verão foi adotado pela primeira na passagem do 30 de abril para o 1º de maio de 1916, durante a Primeira Guerra Mundial, em cidades da Alemanha e Áustria, então membros do Império Austro-húngaro. A ideia de um horário de verão é do polímata americano Benjamin Franklin (1706-1790).

Franklin foi jornalista, editor, escritor, político, filantropo, funcionário público, abolicionista, diplomata, cientista, inventor e hábil enxadrista. Gente com essa envergadura foi varrida da face do planeta por influência de uma visão equivocada da ciência moderna. Para países de elevada latitude (a latitude vale 0º no equador e 90º nos polos) o horário de verão faz sentido. Quanto mais próximo dos polos geográficos, maior a duração do dia no verão e da noite no inverno, como resultado da inclinação do eixo de rotação da Terra (aproximadamente 23,5º) combinado com o deslocamento do planeta em torno do Sol. Para países tropicais como o Brasil, é irrelevante enquanto estratégia para diminuir o consumo de energia elétrica.

O deslocamento da Terra em torno do Sol, pela inclinação do eixo de rotação, é o responsável pelas estações do ano. Em cada um dos polos um dia e uma noite duram, alternadamente, seis meses. Na região equatorial, no entanto, a variação é muito menor. E o Brasil se estende do hemisfério norte (terras do Amapá e Roraima) ao hemisfério Sul, com a maior parte de seu território situada entre o equador e o trópico de Capricórnio, que delimita o maior deslocamento aparente do Sol em relação ao equador.

E isso ainda por efeito da inclinação do eixo de rotação.

O Homem Pomba, oportunisticamente sentado na cadeira do poder no Palácio do Planalto, ficou em dúvida se decretaria ou não o horário de verão este ano. Ele sempre fica em dúvida e, quando decide (costuma recuar com frequência) adota a pior das opções. Bimba! Mais uma vez aí está o indevido horário de verão. Um trabalho feito pelo Ministério das Minas e Energia (MME) publicado em 1º de julho passado pelo jornal “O Estado de S. Paulo” mostra que a economia de energia feita em passado relativamente recente não ocorre mais por mudanças nos hábitos e consumos. Ar condicionado substituiu o chuveiro elétrico como o buraco negro no consumo de energia. Então, por que o horário de verão? O Homem Pombo mede cada centímetro do que pode lhe render algumas migalhas de prestígio e decidiu adotar esse procedimento mais uma vez para não contrair “um hábito cultural”. Respeito a um hábito cultural, por parte do grupo que se apoderou do poder não soa um tanto exótico? Depende dos olhos que observam a realidade.

Então, qual a desvantagem do horário de verão, para não prolongarmos esta conversa? A desvantagem atinge a parcela mais pobre da população.

Aquela que se levanta de madrugada para chegar ao trabalho distante e enfrenta ruas quase sempre mal iluminadas e riscos como assaltos, além de ameaça de agressão sexual, em especial às mulheres. Ah! Mas isso não é um hábito cultural e então o pomposo Homem Pomba não se incomoda. Há ainda um outro desdobramento. Trabalhos envolvendo mudanças desse tipo evidenciam que as pessoas precisam de ao menos duas semanas para adaptar-se à mudança de horário. E um período como este, além do custo psicológico, pode predispor a acidentes de várias ordens que, no Brasil, nunca foram investigados. Você pode até ficar feliz com o horário de verão. Sair mais cedo do trabalho e ainda poder ver o sol se pondo na linha do horizonte. Mas, se essa for a questão, a solução não é alterar os ponteiros do relógio. É alterar o curso das relações sociais. Entre elas as relações de produção. Se você disser que isso é mais difícil, não vou poder discordar.

Mas você não pode se iludir: ter uma sensação de liberdade que não é real.

A um custo mais caro que estaria disposto a pagar.

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