O dia da caça do juiz Bretas

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Um olhar sobre a política e o poder no BrasilInformações da coluna 

Por Bernardo Mello Franco, compartilhado de O Globo




Na foto: O juiz Marcelo Bretas (2º a partir da esq.) e o governador Cláudio Castro (4º) na Feijoada do Amaral Reprodução do Instagram

CNJ julgará magistrado que prendeu Cabral, colou imagem a Bolsonaro e virou alvo de delação

O Conselho Nacional de Justiça julgará na terça-feira três reclamações contra Marcelo Bretas. O juiz se projetou em 2016 ao ordenar a prisão do ex-governador Sérgio Cabral. Nos anos seguintes, encantou-se com a política e colou sua imagem ao bolsonarismo.

Bretas fez dobradinha com Sergio Moro em processos da Lava-Jato. Como o ex-juiz de Curitiba, ganhou popularidade ao condenar corruptos notórios. A exemplo dele, deslumbrou-se com a possibilidade de interferir em eleições.

Em 2018, o titular da 7ª Vara Federal Criminal do Rio desequilibrou a disputa pelo Palácio Guanabara. A três dias do primeiro turno, divulgou a delação de um ex-secretário que, no quarto depoimento, mudou a versão para acusar Eduardo Paes. O prefeito despencou nas pesquisas e foi atropelado pelo azarão Wilson Witzel.

No dia da posse, o juiz foi ao Palácio Tiradentes aplaudir o novo governador. Em seguida, os dois embarcaram num avião da FAB e posaram de mãos dadas a caminho da festa de Jair Bolsonaro.

Assíduo nas redes sociais, Bretas passou a usá-las para bajular o capitão. Num lance de tietagem explícita, disse sentir-se “honrado” por ter o presidente como seguidor no Twitter. Depois foi visitá-lo fora da agenda oficial e entrou na bolsa de apostas para uma vaga no Supremo.

Em 2020, o juiz escancarou de vez a atuação política. Pegou carona no carro oficial de Bolsonaro, participou da inauguração de um viaduto e rodopiou em evento evangélico ao lado do presidente e do prefeito Marcelo Crivella, que tentava a reeleição. A performance lhe rendeu uma censura do Tribunal Regional Federal. Mas a punição não seria suficiente para afastá-lo do palanque.

No último 7 de Setembro, Bretas deu pinta no comício bolsonarista em Copacabana. Postou foto e bandeirinha do Brasil enquanto o então presidente chegava à praia para discursar.

Nem a proximidade do julgamento no CNJ convenceu ao juiz a se recolher. No último domingo, ele se deixou fotografar com o governador Cláudio Castro, ex-vice e sucessor de Witzel, numa borbulhante feijoada de carnaval.

Embora as práticas de Bretas sejam conhecidas, a sessão de terça promete novidades. A mais aguardada é a revelação de trechos inéditos da delação de Nythalmar Dias Ferreira Filho. O advogado acusou o juiz de “negociar penas, orientar advogados e combinar estratégias com o Ministério Público” em processos da Lava-Jato fluminense.

Quando o caso veio à tona, o magistrado se inspirou em seus réus famosos. Disse ser vítima de “afirmações mentirosas e fantasiosas, que distorcem e inventam fatos para criar narrativa”.

Acidente ferroviário

A ANTT autorizou a retomada do projeto do trem-bala Rio-SP. Na nova encarnação, o plano prevê que as estações ficarão longe das regiões centrais e dos aeroportos. A do Rio seria erguida em Santa Cruz. De todos os bairros cariocas, é o mais distante do Centro.

A ideia produziria uma situação esdrúxula: um passageiro que saísse da Avenida Rio Branco gastaria mais tempo para chegar ao local de embarque do que em todo o trajeto do trem-bala.

A empresa autorizada a construir e operar a linha chama-se TAV Brasil e tem capital social de R$ 100 mil. Um de seus sócios é o advogado Marcos Joaquim Gonçalves Alves, que se notabilizou em Brasília como escudeiro de Eduardo Cunha.

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