O dia em que Capô me tirou pra dançar

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Por José Carlos Asbeg uma bela crônica sobre o cineasta, roteiristas, ator e produtor Maurice Capovilla. Capô partiu em 29 de maio, mas  aqui fica, pois o seu talento o eternizou.  Talento, também, para a dança, conforme nos conta Asbeg.
“Em 1999, Maurice Capovilla e eu morávamos em Fortaleza, sem, entretanto, nos conhecer. Ele dirigia o departamento de cinema do Instituto Dragão do Mar. Eu morava na cidade e tentava me conectar com os produtores locais. Um dia recebo um telefonema. Era Capô. Me chamou para almoçar.
Tinha ouvido falar de mim, procurava alguém para coordenar o curso de documentário e queria conversar. Fiquei na maior animação, afinal era oportunidade de romper a barreira do bairrismo – um carioca querendo ocupar espaço no reduzido mercado de cinema cearense.
Encontramos no Piantella. Em pouco mais de uma hora de conversa, ajudada por um tinto e ótima massa, parecia que éramos velhos amigos. Durante pouco mais de um ano trabalhei sob a orientação de Capô e formamos duas turmas de jovens cineastas. Uma bela experiência.
Voltei para o Rio e poucos anos depois Capô e Marilia voltaram também. Uma noite, eles moravam de frente para a Lagoa Rodrigo de Freitas, fui jantar com eles. Vinho e massa no cardápio.
Noite alegre, tinto bom, música animada, olho arregalado Capô a evoluir em passos de dançarino sofisticado na sala de jantar. Fiquei boquiaberto com a agilidade e a riqueza de movimentos daquele solo. Seguia enfeitiçado a fluidez do balé, quando Capô me surpreende e me tira pra dançar. Convite irresistível.
Envergonhado de meu sem jeito, mas ajudado pelo vinho, entrei naquela dança, misto de Fred Astaire e cerimônias ancestrais. Capô, saltitava, agachava-se, rolava pelo chão da sala, numa agilidade física que me parecia improvável para aquele corpo miúdo. Evoluímos durante uns bons minutos, eu tentando imitá-lo e ele criando coreografias inimitáveis. Ofegante e cansado, parei.
Capô seguia os ritmos que se sucediam com energia inesgotável. Anos depois, tive o privilégio de trabalhar com Marilia, o que me aproximou ainda mais do casal.
Durante meses nos encontramos todos os dias. Foram incontáveis vinhos e jantares e bailados solos de Capô, como no aniversário dele de 80 anos, quando nos brindou com coreografias que desenhavam no ar toda sua alegria de viver.
Capô deixa uma lindíssima obra cinematográfica e um exemplo de generosidade ao transmitir a centenas de jovens seus conhecimentos e seu amor pelo cinema.
É assim que vou sempre lembrar dele. O exímio dançarino que me tirou pra dançar.”
Leia aqui sobre a trajetória de Maurice Capovilla

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