O dia em que os fotógrafos se recusaram a fazer imagens do ditador

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Publicado em Socialista Morena – 

Em 1984, inconformados com o desrespeito de Figueiredo com seu trabalho, repórteres fotográficos baixaram as câmeras à sua passagem

FOTÓGRAFOS BAIXAM AS CÂMERAS DIANTE DE FIGUEIREDO EM 1984. FOTO: J. FRANÇA

O que Jair Bolsonaro está fazendo com a mídia comercial desde antes de assumir, vetando a presença de alguns veículos em entrevistas e ameaçando-os por conta de críticas e reportagens, já aconteceu antes no país. Em janeiro de 1984, penúltimo ano do último ditador militar, João Baptista de Figueiredo, os jornalistas que cobriam o Palácio do Planalto tiveram uma série de atritos com o presidente de farda, que resolveram enfrentar através de um protesto inusitado.




A extrema grosseria do presidente, que passou à História por declarar que gostava mais de cheiro de cavalo do que de seres humanos e que, se ganhasse um salário mínimo, “dava um tiro no coco”, já era conhecida de todos os brasileiros. E Figueiredo tratava mal sobretudo os repórteres fotográficos, dando respostas atravessadas e proibindo-os de subir ao gabinete para fazer imagens suas, desde que foi fotografado com a mão quebrada.

A FOLHA DEU O PROTESTO NA PRIMEIRA PÁGINA

Inconformados, os fotógrafos decidiram dar o troco e, à passagem do presidente na descida da rampa do Palácio do Planalto, simplesmente colocaram as câmeras no chão. O único do grupo a utilizar o equipamento foi J. França, encarregado justamente de fazer o clique que registra o protesto. De braços cruzados, os fotógrafos apenas olham para Figueiredo passando, com passos ligeiros e semblante carrancudo.

Folha de S.Paulo noticiou o protesto com direito à foto na primeira página, onde o jornal já aderia à campanha pelas Diretas-Já. “Uma semana após a proibição, imposta pelo presidente Figueiredo, de subirem ao terceiro andar do Palácio do Planalto, onde fica o gabinete presidencial, fotógrafos e cinegrafistas credenciados na presidência da República fizeram um protesto ‘branco’ contra a decisão. Depositaram seus equipamentos de imagem no momento em que o chefe de governo descia a rampa do palácio (…)na tradicional cerimônia que se repete todas as terças-feiras”, contou a Folha.

Dias antes, o porta-voz de Figueiredo, Carlos Átila, tinha tentado “ensinar” a imprensa seu ofício. “Vocês, se não tomarem cuidado, contribuirão para o descrédito da imprensa”, disse, irritado porque vazara uma frase de Figueiredo em conversa com Maluf

A mini “greve” também era um protesto contra as palavras do porta-voz de Figueiredo, Carlos Átila, que dias antes tinha tentado “ensinar” a imprensa seu ofício. “Vocês, se não tomarem cuidado, contribuirão para o descrédito da imprensa”, disse o porta-voz, irritado porque vazara uma frase do presidente em uma conversa com Paulo Maluf, futuro candidato da situação na eleição indireta que Tancredo Neves venceu. A frase fora ouvida e transmitida ao Jornal de Brasília por um dos fotógrafos, daí a proibição de que tivessem acesso ao gabinete.

A história é contada no curta A Culpa É da Foto, dos fotógrafos André Dusek, Joedson Alves e Eraldo Peres, premiado no Festival de Brasília em 2015. É uma boa sugestão para a imprensa experimentar no trato com Bolsonaro.

Assistam.

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