Estudo mostra que um terço da comida produzida no mundo é desperdiçada. Imagine se a pesquisa fosse feita no Natal?
Por Agostinho Vieira, compartilhado de Projeto Colabora
Escolha uma palavra. Apenas uma, que simbolize o Natal para você. Agora faça a mesma pergunta para os seus amigos, tios, avós, irmãos, algumas daquelas pessoas que você, talvez, só encontre uma vez por ano. O que dizem? presentes, festa, confraternização, família, Peru, Tender, Papai Noel…Imagino que, infelizmente, pouca gente vai lembrar do nascimento de Jesus Cristo. Uma pena. Mas aposto que palavras como desperdício, gastança ou comilança vão aparecer na lista. Talvez fome e desigualdade também. O fato é que o Natal, há muito tempo, se transformou na data mais comercial do ano. Como já disse uma vez o economista e ambientalista britânico Tim Jackson: “estamos sendo persuadidos a comprar coisas que não precisamos, com o dinheiro que não temos, para criar impressões que não duram em pessoas que não nos importam”.
Esta semana, um estudo divulgado pela “Waste Management as a catalyst to a Circular Economy”, Gestão de Resíduos como catalisador de uma Economia Circular, em tradução livre, desenvolvido pelo Ministério de Infraestrutura e Gestão de Água da Holanda e pelo Holland Circular Hotspot, confirmou que um terço da comida produzida ao redor do mundo continua sendo perdida ou desperdiçada, enquanto 811 milhões de pessoas passam fome. Todo esse desperdício gera uma perda financeira da ordem de US$ 1 trilhão de dólares. Se a análise se concentrasse nos últimos 15 dias de dezembro, o resultado seria bem pior.
O documento foi entregue pela assessora de Economia Circular do Ministério do Meio Ambiente dos Países Baixos, Jessica Leffers, ao gerente do departamento das Indústrias de Base do BNDES, Marcio Henriques: “Para alimentar a população mundial, em 2050, vamos precisar de 56% a mais de comida, sem usar mais terra para a produção. Mesmo assim, essa quantidade de alimento produzido para o consumo humano está sendo perdida. As pessoas passam fome e desperdiçamos como se fosse um privilégio. Estratégias de economia circular podem promover soluções desde o começo da cadeia de valor”, destaca Jessica Leffers, que complementa: “O lixo orgânico que não é separado e é disposto em lixões e aterros contribui para a geração de graves poluentes quando não há métodos eficientes de manejo. Quando tratados de forma apropriada, alimentos desperdiçados podem gerar altos valores financeiros e ambientais. Podem ser transformados em biogás, por exemplo, ou ter suas fibras usadas nas indústrias têxtil, de papéis ou de materiais de construção”.
Mas nem só de desperdício de alimentos vive a humanidade, e o Natal. A pesquisa holandesa destaca também a necessidade de os países implementarem melhorias na gestão de outros presentes, digo, de outros tipos de resíduos. O consumo de aparelhos eletrônicos, por exemplo, deverá crescer 38% entre 2019 e 2030. Atualmente, apenas 17,4% desses brinquedinhos são recolhidos e reciclados. Entre os resíduos plásticos, 32% acabam no meio ambiente: a estimativa é que, aproximadamente, 3% do total do lixo plástico chegue aos oceanos, 40% são aterrados, 14% são incinerados e apenas 14% têm a destinação correta e são recolhidos para reciclagem.
A diretora da Exchange 4 Change Brasil, Beatriz Luz, empresa que trouxe a pesquisa para o Brasil, acredita que as práticas holandesas de gestão de resíduos têm o potencial de se adequar à realidade brasileira: “Sabemos que, apesar das muitas diferenças que separam o Brasil e a Holanda, diversas soluções trazidas pelo levantamento podem ser adaptadas, levando em consideração as particularidades do nosso país. A publicação traz um plano de ação que apresenta um passo a passo do que é necessário para a criação de um ecossistema favorável à efetiva gestão dos resíduos”.
O estudo holandês e o trabalho da Exchange 4 Change Brasil estão focados na economia circular, na gestão de resíduos, ações absolutamente fundamentais, mas há muito o que fazer também na área da redução do consumo e do desperdício. O Instituto Akatu que incentiva o consumo consciente tem algumas dicas importantes para o seu Natal:
- Presentear amigos e familiares é prazeroso, porém, o valor do presente pode estar muito mais relacionado à sua criatividade e significado do que ao preço;
- Que tal transformar objetos ociosos em presentes? livros, peças de decoração…;
- Faça seus próprios presentes ou compre produtos artesanais feitos por comunidades, cooperativas ou instituições do terceiro setor e, sempre que possível, opte por objetos feitos com matéria-prima reciclada;
- Compre presentes de Natal usados em lojas do tipo brechó ou troque usando feiras, sites ou aplicativos;
- Já fez sua lista de compras? Agora é hora de pesquisar os fabricantes de produtos que sejam ambientalmente responsáveis. Informe-se sobre as empresas. Valorize as que realmente praticam a responsabilidade socioambiental;
- Dê preferência a alimentos cultivados na sua região ou em local próximo, reduzindo assim o custo de transporte e o desperdício, além de usar frutas, legumes e verduras orgânicos e da época;
- Planeje-se e compre a quantidade de alimentos que será consumida, exageros acarretam desperdícios. Se sobrar, faça uma quentinha e dê para quem precisa.
- As embalagens também merecem uma atenção especial. Cerca de 30% de todo o lixo produzido no Brasil é formado por embalagens e isso causa grande impacto ao meio ambiente. Opte por embalagens mais simples e que possam ser reutilizadas. Na hora do descarte, encaminhe o material para reciclagem;
- Use enfeites artesanais ou feitos a partir de materiais reciclados. Após as festas, guarde os enfeites com cuidado e reutilize-os no próximo ano;
- Independentemente dos descontos anunciados, é importante planejar a compra e comparar os preços. Em época de dinheiro curto no bolso e crise, nada melhor do que economizar, mas o essencial é não se deixar levar pelos anúncios de desconto e pelo impulso de compra sem necessidade;
- Faça as contas antes de ir às compras. planeje, estabeleça um limite de gastos e não o ultrapasse. O fim de ano é um dos períodos em que o consumidor mais entra no vermelho, por gastar além do que deveria. Reserve uma parte do 13º para os pagamentos de início de ano, como o material escolar, o IPVA, o IPTU…
- Por fim, e mais importante, aproveite a data, esteja com as pessoas que você ama, seja solidário. Feliz Natal