O direito à agua nas favelas e periferias

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Reflexões de quem caminhava 30 minutos até a bica para garantir água em casa: o Brasil real quer comida na mesa, emprego e água

Por Edu Carvalho, compartilhado de Projeto Colabora




Ter uma sobra nos ganhos e comprar um galão de água, sendo o único motivo não o de usá-lo para beber e “ostentar”. A estratégia era uma outra: criar uma espécie de reservatório, pra se ter onde abastecer caso faltasse.

Assim foi a infância, adolescência e também maturidade do antes menino – e agora homem – na favela, que caminhava de sua casa até a bica, 30 minutos, carregando um saco de garrafas, antes de mate ou refrigerante, pra ter água, se lavar e comer. Água pra limpar os dentes. Para não chegar fedendo na escola, no médico, no trabalho, sendo ainda mais passível de preconceito ou recriminação. Pobre e favelado até topavam. Agora, sujo? Aí já ia ser demais.

Era também sobre não dormir quando chovesse em tempos de “seca”. O quê fazer? Subir na laje, abrir a tampa da caixa e deixar com quem o que vinha do céu pudesse, aos poucos, encher. Pra que não faltasse água na hora da ida ao banheiro, fazendo que o mau cheiro não dominasse nem a casa, nem a rua, empesteando os lugares com o teor das fezes.

E assim, a vida de quem nasce cria de favela ou periferia deixa de ser romantizada, exprimindo a realidade e o sofrimento da falta. Falta de um dos direitos que mais impacta na vida e em todas suas nuances: o direito à água.

Por isso tão mais forte e necessário, nos dias atuais, o debate sobre a garantia desse direito às favelas e periferias. Como é e vem sendo discutido pela ação Águas Resilientes, uma iniciativa que reúne integrantes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), e moradores de favelas do Rio – e tem no grupo o ativista Rene Silva – para levar as principais demandas de água, saneamento e higiene da população que vive em situação de vulnerabilidade à Conferência Mundial da Água, que acontece nesta semana.

A urgência do feito expõe o que se vive entre os becos e vielas desses “aglomerados subnormais” e de outras regiões do Brasil, que dão conta de 35 milhões de pessoas sem água tratada e cerca de 100 milhões sem acesso à coleta de esgoto, à espera da efetivação do novo Marco Legal do Saneamento, sancionado em 2020. E que, feito na pressa, aportou apenas R$ 13,7 bilhões para a problemática, um valor que não dá pra fazer nem metade das metas.

Parecem não saber os legisladores que, no Brasil de 2023, ainda há muitos que suplicam aos céus, clamando “tomara que chova logo, tomara, meu Deus, tomara”, como na canção de sucesso na voz de Luiz Gonzaga. Ou que chegam a andar, como publicado aqui no #Colabora, mais de oito horas em busca de água. Talvez fosse educativo que faltasse água nos bairros nobres de Brasília ou na Faria Lima, pontos centrais de concentração de poder, para que se entendam as verdadeiras necessidades do povo.

O Brasil real quer comida na mesa, emprego e água. Água de beber, camará

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