Compartilhado de Ultrajano –
Desnecessário exemplificar situações que deixam claros os sintomas dessa condutopatia em Bolsonaro. A mais recente é a insistência com que questiona a decisão do STF que deu a governadores e prefeitos autonomia para decidir as melhores medidas de enfrentamento à pandemia, sem excluir a coordenação do governo federal – boa parte deles adotou restrições de circulação e de funcionamento do comércio
POR LUIZ ANTONIO DO NASCIMENTO
Definitivamente, esse sujeito que ocupa a presidência do Brasil não é humano. Não pode ser. Ou sofre de um sério distúrbio mental. Como consegue conviver com a maior crise sanitária da história deste país e não se sensibilizar com o sofrimento da população, as mortes que levam famílias inteiras e o desespero que sitia hospitais sem leitos, sem sedativos, sem oxigênio e com profissionais da saúde completamente extenuados?
Já vimos Bolsonaro em formaturas de cadetes, em solenidades oficiais, distribuindo bolo de aniversário, estimulando e participando de aglomerações. Mas não conheço registro de uma única visita dele a um hospital nesse mais de um ano de pandemia. Logo ele, que diz prezar tanto a relação com o povo – vive a repetir que prefeitos e governadores deveriam fazer como ele, sair às ruas ao encontro das pessoas. Poderia pelo menos acessar a última edição do Profissão Repórter, de Caco Barcellos. É um retrato cruel, de tão dramático, da situação provocada pela pandemia. Talvez tomasse um choque de realidade e acordasse para a gravidade do problema.
Mas não, ele não acredita que os hospitais estão cheios, vans escolares estão sendo usadas para transportar corpos e cerca de 3 mil brasileiros estão morrendo todos os dias. Na quinta-feira, dia da semana em que fala com os apoiadores pelas redes sociais, decidiu recorrer à ironia. Prestou uma homenagem aos jornalistas pelo “dia da mentira”. E afirmou, com a cara de pau que Deus lhe deu: “Não tem faltado leito de UTI, e se estiver faltando, está faltando planejamento por parte dos interessados”. Mais: disse que desde a semana retrasada o governo providenciou os medicamentos para o kit intubação e “estamos indo muito bem nessa questão da vacinação”. Muito. Em que Brasil ele vive?
Dia desses, a Folha de S.Paulo publicou artigo do psiquiatra forense Guido Palomba, ex-presidente da Academia de Medicina de São Paulo, que explica as atitudes arrogantes, autoritárias e negacionistas de Bolsonaro. Nele, o médico recorre a um estudo do psiquiatra alemão Kurt Schneider, conhecido como o “pai dos psicopatas”, para listar as características desse tipo de personalidade anormal, como ausência de sentimentos de piedade, compaixão e altruísmo, falta de valores éticos-morais por pessoas toscas em regra, sem remorso e arrependimento, que não toleram ser contrariados e, em cargos públicos, colocam a própria vontade e a autoridade acima das leis.
Alguma semelhança com o capitão do Planalto? O que Palomba chama de condutopatia (conduta patológica, transtorno de comportamento) não tem cura, a origem do mal é “orgânica e irremovível” – essas pessoas, não raro, sofreram lesões cerebrais na fase intrauterina que impactaram no desenvolvimento do sistema nervoso. E lembra que Bolsonaro só ganhou Messias no nome por ter nascido após uma gravidez complicada. Estaria, então, explicada a origem de personalidade tão anormal.
Desnecessário exemplificar situações que deixam claros os sintomas dessa condutopatia em Bolsonaro. A mais recente é a insistência com que questiona a decisão do STF que deu a governadores e prefeitos autonomia para decidir as melhores medidas de enfrentamento à pandemia, sem excluir a coordenação do governo federal – boa parte deles adotou restrições de circulação e de funcionamento do comércio. Bolsonaro chegou a relacionar as medidas ao estádio de sítio. Quinta-feira, voltou a bater na tecla do “não dá para admitir isso” e alertou; “Eu temo por problemas sociais graves no Brasil. E como você vai combater isso? Eu quero repetir: o meu Exército não vai para a as ruas para agir contra o povo brasileiro. Mas estão esperando o quê?”
Bolsonaro citou mais uma vez “o meu Exército” numa semana marcada por rumores de crise com a queda do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. O presidente, que botou o Centrão no Palácio com a nomeação da deputada Flávia Arruda, casada com o ficha-suja José Roberto Arruda, para a secretaria de Governo; escolheu um delegado da PF para o Ministério da Justiça e um chefe de cerimonial para o Itamaraty, desdenhou qualquer crise com as Forças Armadas. Mas admitiu numa frase que houve problema ao mexer com os militares: “Chamei o Braga Netto, que estava na Casa Civil, fazendo um excelente trabalho comigo, para o cargo. Só nós sabemos basicamente o motivo disso tudo, e morreu aqui essa história, não tem que discutir nada”.
Com toda a certeza, o Exército deve ter contribuído para essa condutopatia de Bolsonaro. Se não, como explicar a falta de verdade e transparência de nossas Forças Armadas 36 anos depois do fim da ditadura que mergulhou o país num período de trevas? Os militares tomaram o poder sem apoio popular – dados do Ibope, que resistiram ao tempo, revelam que em São Paulo, por exemplo, a população aprovava as reformas de base propostas por João Goulart. Mas tinham o endosso do empresariado, da elite brasileira e de grande parte da imprensa. Fecharam o Congresso, fecharam o STF, cassaram políticos, ministros, juristas, censuraram, prenderam, torturaram, mataram pessoas. E jamais pediram desculpas pelo que fizeram ou foram julgados por todas as atrocidades cometidas.
O mais impressionante é que o novo ministro da Defesa, o general Braga Netto, ainda teve a desfaçatez de ler uma ordem do dia em que enaltece o golpe, que chamou de outra coisa: “O movimento de 1964 é parte da trajetória histórica do Brasil. Assim devem ser compreendidos e celebrados os acontecimentos daquele 31 de março”. A mesma desfaçatez com que o transtornado capitão se referiu, quinta-feira, ao comportamento dele na crise “que não foi crise”: “Onde vocês viram ou ouviram uma só ação minha ou ato que visasse termos aqui algo fora da Constituição, um arrobo de autoritarismo? Nada!”.
Nos poupe, capitão. Vá procurar um psiquiatra.
Para completar:
– De Lula, em entrevista a Reinaldo Azevedo na Band News: “A sociedade brasileira se acovardou. Nunca vi tanta gente covarde que não teve coragem de defender sequer o emprego dos trabalhadores”.
– Mais: “Bolsonaro, quando é que você vai assumir a responsabilidade… governar esse país?… Pelo amor de Deus, aceita os conselhos da ciência… Fecha a boca, Bolsonaro. Não adianta ficar falando bobagem”.
– É o fundo do poço? É o fim do caminho? Março foi embora, levando o verão; não teve chuva, mas uma grande tempestade – foi o mês mais letal na pandemia. Que mantenhamos a promessa de vida no coração.