Mais um episódio da coluna “A César o que é de Cícero”, do doutor em Literatura Cícero César Sotero Batista. Desta feita, Cícero César se transforma em colunista social e retrata a si próprio a guisa de presente antecipado de aniversário. Siga os auto passos de Cícero César e recorde uma manchete destas publicações de celebridades que pululam nos dias de hoje, “Caetano Veloso atravessa rua do Leblon”. Aqui você vai ler com exclusividade que Cícero César, prestes a completar 51 anos, passeia e curte a sua Nilópolis com a vitalidade da jeunesse dorée, sem lenço e sem documento.
Nota do Editor: na ausência de imagens sobre as andanças pré-natalícias de Cícero Cesar, pois o papparazzi contratado foi atrás do Zeca Pagodinho em Xerém, ousamos publicar foto do mesmo com a querida filha Cecília nos festejos do aniversário deste editor, Washington, em Paquetá. Ah, Cícero César não bebe em dois copos ao mesmo tempo, como a imagem pode induzir. O segundo copo é do autor da foto, eu mesmo.
Vamos á coluna, um tanto curvada e dolorida, do cinquentão Cícero César.
“O calendário de 2022 me proporcionou um feriado prolongado justamente na semana de meu aniversário: faço cinquenta e um anos (!) nesta sexta-feira, dia 17 de junho. Tudo leva a crer que seja por isso que o pessoal da revista “Coroas”, espécie local da indefectível “Caras”, esteja a postos para acompanhar os preparativos para a celebração da data, a meu ver, mais importante do ano.
Vão quebrar a cara, por suposto! Eu não sou chegado a festas de aniversário. Contudo, como também não sou de atrasar ninguém, estou pronto para os papparazzi! Para todos os efeitos, sou uma efeméride, um fait-diver, um assunto da semana. E tem mais: prevenido como sou, escrevi os textos, deixando o pessoal da redação com a incumbência de tirar as fotos de minhas andanças supostamente despretensiosas.
Entretanto, se os Coroas me amolarem ainda mais, lhes direi: “E estamos conservados, digo, conversados!” Paciência tem limite, pô!
Cícero César e Layla Warrak no niver do Guga
Cícero César (50) e Layla Warrak (não se pergunta a idade de uma mulher!) marcaram presença no Niver de Guga Khazzaal (58) no Garage Rock Club neste sábado, 11 de junho. O casal se esbaldou ao som de covers (e põe cover nisso, o frio estava de lascar!) do rock brasileiro dos anos 80 na companhia de familiares e amigos.
No dia seguinte, Dia dos Namorados, para aliviar os efeitos da ressaca, o casal abriu uma garrafa de Coca-Cola original. Trocaram juras e borbulhas de amor como se a Coke fosse uma garrafa de espumante.
Cícero César na Feira da Mirandela
Cícero César (50) aproveitou o domingo para prestigiar a feira de rua da Mirandela, tradicional ponto turístico da cidade Beija-flor. Vestia um look de inverno inspirado em Zeca Pagodinho (não se pergunta a idade de Zeca Pagodinho!): calças de moleton da C&A, camisa de pijama C&A, casaco do avesso, meias brancas e chinelas de dedo. Um arraso. Não comprou nada na feira porque não levou a carteira.
Cícero César almoça em família
O almoço em família do Cícero César (50) deste domingo contou com uma forma de culinária criativa. Trazida dos Estados Unidos, os “leftovers” (sobras, em português) foram o carro-chefe, mostrando que o povo brasileito não perde para ninguém quando o quesito é criatividade: de entrada, caldo verde de véspera, devidamente requintado e requentado no microondas; de prato principal, o delicioso Vaiquessobra, versão tupiniquim do macarrão oriental, acrescida de molho Shoyo e de amendoim do saquinho verde, que tinha sobrado da sexta; para beber, Coca-Cola original com colher no gargalo para não perder o gás; de sobremesa, churros do aniversário da Cecília (8).
Cícero César mostrou mais desenvoltura na lavagem da louça do que daquela vez em que se aventurou no curso rápido de stand up paddling na Lagoa de Araruama.
Cícero César no bar do Deivid
À tarde, Cícero César (50) foi conferir o resultado do futebol no Bar do Deivid (não se pergunta a idade de um dono do bar!). Deivid estava mais feliz do que quando cliente não pendura a conta: o Vasco venceu o jogo contra o Cruzeiro.
Por sua vez, o barbeiro Leandro, mineiro radicado na Beija-flor e cruzeirense roxo, deveria estar mais inconsolável do que cliente que se arrepende por ter passado a máquina zero. Segundo fontes fidedignas, ele foi ao Maracanã ver o jogo na companhia da namorada, também cruzeirense. O jeito agora é esquentar os pés frios, se possível com meiões azuis.
No bar do Deivid, Cícero César ajudou a divulgar a tradicional água tônica da garrafa cacarecada para o público jovem, que só bebe Gim Tônica sem água tônica. Pagou em dinheiro vivo porque não sabia onde tinha enfiado a carteira.
Cícero César no supermercado Vianix
Cícero César (50) pintou no supermercado Vianix, onde você encontra tudo pelo melhor preço da região. Vestia o mesmo look à Zeca Pagodinho de mais cedo, com apenas um pequeno mas decisivo detalhe: o casaco estava devidamente desvirado do avesso – sugestão de Layla Warrak (não se pergunta a idade de uma dama!), sua mulher e personal stylist.
Tudo começou quando um rapaz lhe cedeu o lugar na fila de atendimento prioritário, gesto ao que Cícero César respondeu em prosódia de novela de época que não carecia de tamanha gentileza. Ficaria tudo por isso mesmo, não fosse um senhor que proferiu um “Por obséquio”, expressão que não se ouve todo dia, e passou à frente dos dois. Para efetuar o pagamento, o senhor apenas aproximou o celular da máquina de cartão, que, para o espanto das testemunhas, registrou tudo.
Esse mundo está ou não perdido, que nem a carteira do Cícero? Tecnologia não falta. Por vezes só falta dinheiro mesmo.
Cícero sacou dinheiro em espécie (espécie cada vez mais rara, por sinal. Deve ser por isso que o pessoal põe animais da nossa fauna nas notas!) para pagar a conta, enfiou o troco no bolso da calça de moleton e voltou para casa com o filtro de papel.
Cícero César no cinema em casa
Cícero César (50), Layla Warrak (já disse que não se pergunta a idade de uma dama!), Francisco (11) e Cecília (8) se divertiram no final da tarde deste gélido domingo com o filme “DPA 3”. Todo os membros da simpática família estavam vestidos à Zeca Pagodinho debaixo de grossas cobertas. Estilo é uma questão em aberto.
A emoção de ver as crianças tão crescidas fez com que Cícero César, para não chorar, virasse para o lado e engrenasse uma soneca dominical das mais revigorantes, apesar da apneia.
Quando acordou, veio-lhe a revelação: a carteira estava no bolso da frente das calças com que fora ao niver do Guga Khazzaal. Fim do mistério.
Cícero César de frente pra tela
Cícero César (50, mas faltando pouco para 51) escreveu esse texto para que seus leitores se divirtam. Não se esqueçam: a vida é breve, brevíssima; que seja vivíssima.
Se os leitores não se divertirem com os relatos, tudo bem. Que aceitem pelo menos a sugestão de utilidade pública: mantenham as carteiras em lugar visível e de fácil acesso.”
Sobre o autor
Radicado em Nilópolis, município do Rio de Janeiro, Cícero César Sotero Batista é doutor, mestre e especialista na área da literatura. É casado com Layla Warrak, com quem tem dois filhos, o Francisco e a Cecília, a quem se dedica em tempo integral e um pouco mais, se algum dos dois cair da/e cama.
Ou seja, Cícero César é professor, escritor e pai de dois, não exatamente nessa ordem. É autor do petisco Cartas para Francisco: uma cartografia dos afetos (Kazuá, 2019) e está preparando um livro sobre as letras e as crônicas que Aldir Blanc produziu na década de 1970.