Junior, o nosso taxista que ouve tudo e diz poucas e boas, pega um passageiro nos Jardins e este pede para o Morumbi. Para fugir do trânsito, Júnior corta caminho por um bairro popular.
Nisso, o passageiro comenta que está cansado de ver pobres pela rua, se achando donos do mundo.
– Vê, aque alí? Fala, apontando um senhor de meia idade preparando um churrasquinho na porta de um boteco.
– Acha que porquê pode fazer um churrasco de gato já é dono de tudo. Estou cansado destes nordestinos que agora acham que subiram na vida.
Mas continuam sendo uns “passa fome”.
Júnior engoliu em seco. Ele, baiano, cuja família veio para São Paulo em busca e uma vida menos sacrificada do que aquela vivia no Nordeste a 20 anos, pensa em pedir para o passageiro descer.
Mas não o faz, pois sabe das consequências disso.
Só responde: pois é, senhor, sou nordestino e tenho orgulho de ser, e fico feliz em ver que meu povo teve sua vida melhorada nos últimos 12 anos.
Silêncio.
Lá fora, o calor e o trânsito parecem encompridar aquela viagem.