Por Celso Sabadin, Facebook
Certa vez, quando trabalhava na TV Bandeirantes, fui abordado por um colega:
– Sabadin, fui ver aquele filme que você recomendou e achei uma porcaria!
Perguntei o nome do filme, ele me disse (não lembro qual era), e eu respondi:
– Mas eu não recomendei este filme. Pelo contrário. Falei que era muito ruim.
O colega ficou espantado. No imaginário dele, eu tinha recomendado o filme. Foi então que percebi – pelo menos um pouquinho – a força absurda desta máquina de fazer malucos chamada televisão.
O simples fato de eu ter mencionado o tal filme e de ter exibido imagens dele passava para o público um conceito de “recomendação”, de elogio. Afinal, eu abri espaço para o filme, falei, citei, comentei, mostrei cenas, e não adiantou nada dizer que o filme era da pior qualidade. A simples presença dele na tela da TV era uma espécie de aval.
A partir disso, e até hoje, prefiro priorizar críticas de filmes de qualidade, esquecendo os que não me agradam. Muitos anos depois, um dos meus professores do Mestrado, Luiz Vadico, esclareceu este mecanismo de validação da mídia, e provou por A + B que a melhor maneira de enfraquecer as coisas ruins da vida é negar a elas qualquer tipo de espaço de divulgação. Mesmo que seja para falar mal. Mas e para denunciar?
Para isso existem leis, tribunais, ministério público, essas coisas. Não a mídia. Vadico foi mais longe, afirmando que se não existisse televisão não existiria o Estado Islâmico. Afinal, para que explodir coisas se nada vai sair na televisão? Se ninguém vai ver?
Lembrei de uma piadinha antiga na qual um sujeito encontra a Sharon Stone numa ilha deserta (sim, a piadinha é da época da Sharon Stone) e pergunta se ela topa transar com ele. Ela topa, mas ele desiste da ideia: pra que transar com a Sharon Stone se, numa ilha deserta, ele não teria ninguém pra contar..?
Pense nisso na hora de compartilhar lixo. Compartilhar é divulgar, falando bem ou falando mal.