O embate agora é político

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado

A tenebrosa sucessão de vergonhas do governo Bolsonaro em menos de um menos é realmente digna de entrar no livro dos recordes, o Guinness. Nada surpreendente para quem o conhecia e sabia do discurso mentiroso sobre tudo, mas ajuda a trincar a imagem ao menos diante de uma parcela dos milhões de brasileiros que não são fascistas e que, acreditando nas promessas falsas, ajudaram a dar a vitória ao boçal no segundo turno da eleição presidencial.




As trapalhadas principalmente do núcleo mais fundamentalista, formado pelos medievais das Relações Exteriores, Educação e Damares, expuseram ao ridículo um governo de extrema-direita ao revelarem justamente o que podem fazer os escolhidos, não por acaso, por Bolsonaro. Mas esse senso crítico vem principalmente de setores mais informados e da imprensa estrangeira. O povão mesmo divide-se em duas alas, os que concordam com a regressão no campo dito de costumes e político e os indiferentes.

Não é o caso, porém, dos contornos que vão ganhando o escabroso caso de Flávio Bolsonaro, o 01, como o pai o chama. No início, parecia ser mais uma caso de “rachadinha”, a velha prática de parlamentares do baixo clero de cobrar um pedágio de funcionários de gabinete. O caldo começou a entornar de vez quando pulou de R$ 1,2 milhão para R$ 7 milhões a movimentação bancária do laranja Queiroz. Evidente, diante da revelação, que não se tratava só de rachadinha.

Para fechar o círculo, transações imobiliárias fora do padrão, e consequente enriquecimento meteórico de Flávio Bolsonaro. E aí apareceram os milicianos de estimação acolhidos pelo 01. Não há como deixar de pensar que o filhão do homem e seu laranja têm parceria com matadores cariocas e seu dinheiro sujo.

Também no campo do “tá na cara”, esse pessoal tem muito a contar sobre as execuções de Marielle Franco e Anderson Gomes. E o que isso quer dizer? Ao contrário do que muita gente tem pensado, esse escândalo, que redundaria em impeachment em quase todos os países civilizados, não deve ser suficiente para derrubar Bolsonaro.

Não nos iludamos, a elite econômica que adotou o atual presidente da República não tem qualquer prurido moral ou ético. O que interessa à turma do dinheiro são as tais reformas, na verdade a retirada de direitos sociais básicos como o da aposentadoria. Em nome delas (reformas), vale tudo.

Se for necessário sacrificar o mandato de Flávio Bolsonaro, ele será jogado ao mar. Se, em hipótese improvável, o caso ferir Jair Bolsonaro mortalmente, Mourão está aí.

Aliás, merecem atenção as notinhas plantadas no noticiário da grande mídia apontando que o vice, milico de patente superior, é a reserva de “bom senso” no Planalto. Mourão está aí de plantão e seu pensamento econômico é o mesmo de Bolsonaro e do tal mercado. Seria uma troca de 6 por meia dúzia. Mourão é um Bolsonaro sem voto.

Mas o escândalo fétido que sangra o clã Bolsonaro abre, sem dúvida, uma estrada para dar credibilidade maior ao combate da oposição às “reformas”. Bolsonaro, graças principalmente à facada de Juiz de Fora, conseguiu evitar, fugir do debate sobre as medidas econômicas que pretendia implantar caso fosse eleito.

Nenhum de seus milhões de eleitores pobres, por exemplo, soube que o alicerce de seu plano era uma mudança na Previdência que afetará de vez a vida deles.

O discurso falacioso sobre o “combate à corrupção” foi quase a nota única, ao lado das mentiras como mamadeira de piroca etc. O cidadão que votou no milico terá um choque de realidade quando fizer as contas e conferir a fatura em seus direitos.

Se a oposição tiver juízo, o caso Flávio Bolsonaro é uma rachadura imensa na credibilidade do clã e ela pode ser aproveitada no combate político, que é o que interessa mesmo aos mais pobres. Bolsonaro pai está manco e vender a ideia da reforma da Previdência ficou mais difícil, mesmo com a unanimidade dos grandes veículos de comunicação a favor da retirada de direitos. Não será o “passeio” que o mercado imaginou.

Na hora em que os setores progressistas estavam na defensiva antes de um embate crucial, as revelações sobre o verdadeiro caráter do clã, ou melhor, a falta de caráter, é um sopro de esperança para quem não aceita a barbárie.

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