A PF precisa investigar seus gastos durante a viagem e se foram pagos em dinheiro ou cartão. Se em cartão, em nome de quem.
Por Fernando Castilho, compartilhado de GGN
Um belo dia de julho deste ano, Francisco Wanderley Luiz, mais conhecido como Tiu França, saiu de sua cidade, Rio do Sul, distante 195 km da capital de Santa Catarina, Florianópolis, e viajou por 1667 km (22h 15min) até chegar a Ceilândia, em Brasília. O carro era um Kia Shuma 1999.
Vamos às perguntas e suas possíveis respostas:
Tiu França pode ter levado lanches e dormido no carro. Desta forma, pode ter economizado durante a viagem. Mas não se descarta a possibilidade de ter se alimentado em restaurantes à beira da estrada. A PF precisa investigar seus gastos durante a viagem e se foram pagos em dinheiro ou cartão. Se em cartão, em nome de quem. Porém, dos cerca de dez pedágios ao longo do caminho, não se livrou. Teria gastado 350 reais.
Temos que computar a gasolina. Seu carro gastou, pelos meus cálculos, pelo menos 970 reais em combustível. E, novamente, é preciso descobrir a forma de pagamento.
Tiu França, além de tudo, deve ter tido muita sorte por seu carro não ter quebrado durante a viagem, o que certamente encareceria muito a viagem, pois, além de ser velho, o veículo era importado, com peças que não se encontram facilmente pela estrada. Portanto, só a viagem de Rio do Sul a Ceilândia custou no mínimo 1330 reais.
2 – Como Tiu França conseguiu alugar por três meses uma casa em Ceilândia?
Era uma casa simples, com apenas dois cômodos. O imóvel ficava dentro de um lote com diversas residências. Nesse ponto, sem conhecer os detalhes, fica difícil saber se o senhorio exigiu depósito ou confiou na palavra de Francisco, o que é mais difícil. Porém, três meses de aluguel custariam no mínimo 3 mil reais.
3 – O terrorista tinha dinheiro e conhecimento técnico para comprar e montar suas bombas?
Tiu França, em seguida, tratou de comprar os apetrechos para montar suas bombas, tais como explosivos, detonadores, tubos, etc. Isso não deve ter custado barato. Além disso, montar bombas requer algum conhecimento técnico. Embora muita coisa se encontre na Internet, o terrorista era apenas um chaveiro, a princípio sem conhecimento do assunto. Não dá para estimar o preço desses equipamentos, mas vamos chutar um 2 mil reais.
4 – Durante os três meses em que morou em Ceilândia, Tiu França gastou quanto em alimentação, material de limpeza e higiene pessoal?
Ora, se gastou o mínimo, podemos dizer que devem ter sido no mínimo 30 reais por dia, o que daria 2700 reais.
Portanto, somando-se os 1330 reais de custo mínimo da viagem, os 3 mil de aluguel da casa, os 2 mil dos apetrechos e as despesas de 2700 reais, teremos, pelo menos, 9 mil reais! Lembremos que o sujeito era pobre.
Ele pagou do próprio bolso? Quem o financiou? Ele planejou e executou tudo sozinho?
A polícia tenta descobrir os motivos pelos quais sua ex-esposa incendiou a si e a casa simples, de madeira, de 50 m², onde moravam em Rio do Sul. Se a casa já havia passado por perícia, o que mais ela estaria escondendo lá dentro? Provavelmente nada. Mas qual a motivação?
Enfim, um caso de terrorismo que a PF vai levar certo tempo para desvendar.
Porém, essa investigação não deveria ser motivo para a PGR protelar novamente o oferecimento de denúncia contra Jair Bolsonaro, já que há elementos mais que suficientes para isso.
Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.
