Por André Barrocal, publicado em Carta Capital –
Rede de doleiros presos no início do mês compõe um sistema financeiro paralelo, de dinheiro sujo, para que figurões e seus aspirantes façam negócios
O fim da escravidão no Brasil faz aniversário dia 13. Em 130 anos, o País tornou-se a oitava maior economia do mundo e a décima mais desigual. Quem ganhou 10 mil reais por mês no ano passado faz parte dos 10% mais ricos. Renda acima de 27 mil bota a pessoa no clube do 1%.
Os endinheirados são a “elite” dirigente nacional, a casa-grande responsável pela abolição da escravatura por aqui ter sido a última nas Américas, embora muitos deles se sintam “classe média”. Ao serem eleitos, os atuais prefeitos, governadores, senadores, deputados estaduais e federais tinham patrimônio médio de 1,2 milhão de reais.
Joaquim Barbosa, o ex-juiz negro, pensou em disputar o poder em outubro, mas acaba de desistir e, sem usar a palavra, culpou a “elite”. “Não acredito que esta eleição vá mudar o País. O Brasil tem problemas estruturais gravíssimos, sociológicos, históricos, culturais e econômicos. É um país que tem um histórico de dificuldades imensas para assimilar relações econômicas saudáveis”, disse ao Valor.
A prisão de dezenas de doleiros no início do mês é uma história cheia de pistas de que as relações econômicas realmente não são nada saudáveis, graças a figurões, empresários, artistas, esportistas, a “elite” em suma, todos juntos, de forma cínica ou ingênua, com aqueles que seriam os corruptos por excelência, os políticos.
O mais escandaloso naquilo que começa a vir à tona é a normalidade, uma aparente rotina entre endinheirados. Daí a dúvida: será que as investigações irão até o fim ou vão terminar como no caso Banestado? Juízes, procuradores e policiais federais pertencem ao clube do 1%, com seus salários de marajás, seus círculos de amizades, seus hábitos culturais.
Ou será que os justiceiros centrarão fogo somente nos vilões nacionais, os políticos? Ao levar o caso ao juiz Marcelo Bretas, da 7a Vara Federal do Rio, que autorizou enjaular os doleiros, a força-tarefa da Operação Lava Jato no Rio tratou tudo como se fosse um esquema montado por Sérgio Cabral, do MDB, ex-governador do estado. É bem mais do que isso, embora Cabral seja a origem do arrastão.
Cabral é um ex-jornalista da alta roda carioca, filho de pai homônimo que no passado foi um famoso crítico musical. Está preso desde novembro de 2016. As condenações que recebeu por falcatruas superam 100 anos de cadeia.
Recebeu tamanhas punições, pois suas tramoias eram dignas de tanto. Suas safadezas movimentaram tanta grana, que os doleiros que o ajudavam, os irmãos Renato e Marcelo Chebar, tiveram de pedir ajuda a outros especialistas no ramo da picaretagem cambial, Vinicius Claret, o Juca Bala, e Claudio Barboza, o Tony. Delatados pelos Chebar, Juca Bala e Tony foram presos, em março de 2017, no Uruguai e converteram-se em alcaguetes.
Suas confissões mostram que Juca e Tony casavam interesses escusos. O noivo era alguém que, por exemplo, ganhou reais ao não pagar imposto e precisava escondê-los em dólar no exterior. A noiva era um detentor das verdinhas que queria reais para subornar político, entre outras.
Um retrato do que diz o juiz Fausto de Sanctis, especialista em combate à evasão de divisas e lavagem de dinheiro: “Há uma simbiose entre corrupção, sonegação fiscal, lavagem, offshores e paraísos fiscais e, quanto maior a fiscalização, melhor será a utilização de mecanismos que não deixam rastros, como a utilização de dinheiro em espécie”.
Juca e Tony não deram só o nome dos doleiros comparsas. Entregaram os dois sistemas que a dupla tinha criado, o ST e o Bankdrop, para controlar os negócios eletronicamente do Uruguai, onde moravam desde o caso Banestado.
O que emerge dos relatos e das provas é um sistema financeiro paralelo, de giro diário de 1 milhão de reais entre 2010 e 2016. Um total de 1,6 bilhão de dólares (5,6 bilhões de reais) a passear por 52 países.
Entre os dedurados estão os gêmeos Roberto e Marcelo Rzezinski, com quem os alcaguetes negociavam desde a década de 1990. Os irmãos eram, sobretudo, vendedores de dólares. Apontavam contas no exterior para depósito e recebiam reais no Brasil. Com eles, as transações eram sempre polpudas, de 100 mil a 800 mil verdinhas.
Nos sistemas ST e Bankdrop, tinham o codinome “Pedra”. Os sistemas revelam, por exemplo, que os Rzezinski receberam 250 mil dólares no Bank of America de Nova York em 6 de novembro de 2009. O pagamento a eles em reais costumava ser em espécie, em dois locais. O Shopping Le Monde, na Barra da Tijuca, e o Hotel Sheraton do mesmo bairro.
A quebra do sigilo telemático (telefônico e internético) dos irmãos achou uma prova de que Roberto possui uma unidade no hotel, a 0109 do Bloco 1. Com a grana viva que obtinham, os Rzezinski faziam chegar a um político do PMDB possivelmente propina.
O Coaf, unidade de inteligência financeira do governo federal, pegou movimentações bancárias estranhas dos Rzezinski. Não está claro se o órgão viu isso no momento em que elas aconteceram e tomou alguma providência ou se produziu um relatório somente agora, a pedido da Justiça.
De qualquer modo, o relatório com os investigadores informa que, entre 4 e 15 de setembro de 2009, uma conta no Banco Safra de uma empresa da qual Roberto é sócio apresentou “operações financeiras consideradas suspeitas”, vários depósitos cash, acima de 50 mil cada, a somar meio milhão de reais.
A conta pertence à Empresa Brasileira de Distribuição de Ingressos. Um dos sócios de Roberto na firma é, ao menos era na época, Luciano Huck, o apresentador global e tucano que Fernando Henrique Cardoso queria ver candidato a presidente no lugar de Geraldo Alckmin.
No fim de 2017, Huck mergulhou em um projeto de fabricação de candidatos para as eleições de 2018, o Renova Brasil, chateado com a política e a corrupção. Em entrevista no Domingão do Faustão, em janeiro, esculhambou as duas.
Deve estar arrependido de ostentar a amizade com o senador Aécio Neves, do PSDB de Minas, para quem fez campanha na última eleição presidencial. Aécio é um mineiro que adora o Rio e não saía de lá quando Cabral era o mandachuva.
Agora está encrencado com a Justiça, devido ao caso JBS/Friboi. Um empresário visto hoje em dia como uma espécie de prestador de serviços clandestinos a Aécio, Alexandre Accioly é, ao menos era em 2009, outro sócio de Roberto Rzezinski e Huck na empresa de ingressos.
Accioly é investigado em uma das frentes abertas contra Cabral e já teve de depor à Polícia Federal. Sua relação com Roberto é citada pelos investigadores no pedido de prisões enviado a Bretas. Accioly é dono de uma rede de academias no Rio, a Bodytech.
Entre os sócios da rede está o Banco BTG, de André Esteves, preso no fim de 2015, acusado de tentar obstruir as investigações da Lava Jato, e liberado pelo ministro Teori Zavascki, inclusive de prisão domiciliar.
Outro sócio da Bodytech é o técnico de vôlei Bernardinho. Em 2013, o técnico entrou no PSDB, a pedido de Aécio, que sonhava em tê-lo como cabo eleitoral no Rio em 2014. Em fevereiro de 2017, trocou de partido, agora é do Novo, do banqueiro presidenciável João Amoedo.
Na época, Bernardinho disse à Folha: “O grande problema do Brasil é a falta de liderança. Porque o líder é aquele que não permite transgressões. Nós, hoje, ansiamos por líderes e lamentamos a ausência deles, porque somos o país das transgressões”.
Com seus salários milionários, inclusive no exterior, artistas e esportistas são fontes de dólares para o sistema financeiro paralelo. Um dos doleiros recém-enjaulados, Sergio Mizrahy, fez negócios com o jogador Emerson Sheik, de carreira internacional e hoje no Corinthians.
Segundo Juca Bala e Tony, quando voltou a jogar no Brasil, Sheik vendeu 500 mil dólares a Mizrahy, através de uma conta na Ásia, para receber reais aqui e usá-los na compra de um apartamento. Essa operação, de algum modo, passou pelos delatores, daí que está registrada no ST e Bakdrop. Nos sistemas, Mizrahy é chamado de “Mizha”. Em colunas sociais cariocas, de “consultor financeiro”. Pelos investigadores, de “agiota”.
Fornecer reais em espécie em troca de dólares seria a principal atividade dele no sistema financeiro paralelo. Os delatores dizem tê-lo conhecido nos anos 1990. Tony recorreu a ele para obter reais depois de uma factoring, a Zibert Fomento Mercantil, fechar as portas.
Esse tipo de firma é uma das fontes de grana viva para o câmbio negro. Áreas de comércio popular, como a Rua 25 de Março em São Paulo, também, motivo de a PF estar à caça de um doleiro que teve a prisão decretada, Wu-Yu Sheng, chinês que teria fugido para Miami após a Lava Jato, em 2014.
Padaria seria outra fonte de cash, daí que uma das contas usadas por Mizha para movimentar grana era em nome de uma, a Padaria e Mercearia Maracanã. Um relatório do Coaf aponta um saque de 100 mil reais, em espécie, em 17 de agosto de 2012, de uma conta de Mizha no Bradesco.
O agiota teria o costume de entregar reais dentro de seu apartamento na Avenida Vieira Souto, 272, em Ipa-nema. Versão confirmada por um colaborador de Juca Bala e Tony, cuja função era recolher grana e também virou delator, José Carlos Alves Rigaud.
Em 2016, o imóvel teve um festão de aniversário para Mizrahy, a contar com José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, ex-Globo. O agiota, segundo o Ministério Público, “tem vínculo estreito com a Escola de Samba Grande Rio, aparentemente utilizando, inclusive, contas bancárias da própria agremiação para realizar lavagem de dinheiro”.
É a escola do coração dos artistas globais. Um desses, Stepan Nercessian, foi à festa de Mizrahy em 2016. Nercessian enveredou pela política, foi vereador pelo PPS de 2004 a 2010, depois deputado federal até 2014, daí apoiou o impeachment de Dilma Rousseff, a quem certa vez definiu com um trocadilho: “Uma estadista: estadistante de tudo”.
Nem sempre o dinheiro vivo de Mizrahy era entregue no apê de Ipanema. Também “foi coletado no Ibope”, pois o agiota é amigo do fundador do instituto, Carlos Augusto Montenegro, segundo Tony.
Ao contrário de Mizrahy, a principal função de Oswaldo Prado Sanches no sistema financeiro paralelo era arranjar dólares. Sanches, que foi preso e teve negado um habeas corpus para ser solto, botou na praça cerca de 15,5 milhões de dólares entre 2011 e 2016, através de uma conta mantida em Nova York, no banco Morgan Stanley. Onde ele arrumava a moeda de Tio Sam?
No Grupo Bozano, hoje em dia um banco de investimentos do qual é sócio o economista liberal Paulo Guedes, anunciado pelo presidenciável da extrema-direita Jair Bolsonaro, do PSL, como seu ministro da Fazenda, caso seja eleito em outubro. Nas 423 páginas apresentadas ao juiz Bretas pelo Ministério Público, a expressão “grande cliente” aparece só duas vezes, uma delas para se referir ao Bozano.
Sanches é diretor do Bozano, grupo com o qual Juca Bala e Tony contaram ter feito negócios desde os anos 1990. O pagamento pelos dólares fornecidos pelo Bozano por intermédio de Sanches era em dinheiro vivo em alguns endereços no Rio. Por exemplo, na Rua Visconde de Ouro Preto, número 5, 10o andar, no bairro de Botafogo.
É o endereço indicado à Receita Federal pela Companhia Bozano, aberta em 1972 e tida como ativa pelo “Leão” desde 2005. Rigaud, o maleiro dos delatores, disse ter ido também à Avenida Rio Branco, no Centro, onde fica o Edifício Banco Bozano Simonsen, prédio batizado com o nome daquela que um dia foi a principal empresa do conglomerado Bozano.
O bilionário patriarca do grupo, Julio Bozano, de 80 anos, participou de privatizações na era FHC, vendeu seu banco ao Santander em 2000 e saiu de cena. Voltou ao mercado financeiro em 2013, em sociedade com outros gestores de grana alheia.
Entre eles, Guedes, que deixou uma empresa que tinha criado, a BR Investimentos, ser incorporada pelo grupo. Desse novo arranjo societário nasceu a Bozano Partners. Sanches foi um dos três participantes da Assembleia-Geral constituidora da Partners.
Esta é uma espécie de guarda-chuva formal da Bozano Investimentos, empresa da qual Guedes é sócio e membro dos comitês executivo e estratégico.
Nos sistemas de Tony e Juca Bala, Sanches tem o codinome “Barbeador”, alusão ao fato de ser de uma empresa cujo nome também é o de espuma de barbear. Ali há registro de um negócio selado com “Barbeador”, em 30 de junho de 2015, no valor de 250 mil dólares.
Outro peso contra Sanches e o Bozano está na Junta Comercial do Rio. O endereço “Rua Visconde de Ouro Preto, número 5, 10o andar” é o de uma firma de Sanches, a Kadon Empreendimentos, e foi, até julho de 2006, sede das empresas Bozano Shoppings e Bozano Centers.
Como a relação de Guedes com o Bozano começou em 2013 e como as informações obtidas pelos investigadores mostram “Barbeador” a operar com doleiros até 2016, Bolsonaro está na pior, para quem parece disposto a dizer na campanha que é o único candidato honesto. Isso, claro, se as investigações avançarem e não forem seletivas.
Bancos fornecem também cérebros e clientes ao sistema financeiro paralelo. Entre os doleiros presos está Chaaya Moghrabi, atuante em São Paulo e conhecido por Monza. Foi do Banco Safra, “onde conseguiu uma grande carteira de clientes” para o esquema, segundo Tony.
Outro encarcerado é Diego Renzo Candola, o Zorro, ex-Deutsche Bank e ex-Credit Suisse no Brasil, um especialista em abrir contas em paraísos fiscais, como Liechtenstein. Aliás, uma unidade do Bradesco em outro paraíso, Luxemburgo, é citada várias vezes como destino de grana a outro doleiro preso, Richard Otterloo, sócio de um sujeito, Raul Srour, acusado de intermediar propina ao PSDB de São Paulo no caso do “trensalão”.
“As instituições financeiras devem atuar para evitar o resultado ilícito, nos termos do que discorre, por exemplo, a Lei das S/A, sob pena de responderem criminalmente por omissão penalmente relevante, como se autoras e/ou partícipes fossem do crime realizado. Elas têm de ser investigadas quando fluxos ilegais trafegaram por elas”, diz De Sanctis.
Quando não passa por bancos, uma montanha de dinheiro do sistema financeiro paralelo circula pelas ruas do País à luz do dia. É espantoso que as autoridades não tenham descoberto antes ou tenham feito vista grossa, e encarado tudo como algo normal.
Ou a explicação seria outra? Parte da grana da rede de doleiros era levada de um canto a outro do Brasil por uma empresa de transporte de valores do Rio, a Trans Expert. Um dos doleiros presos, Carlos Alberto Braga de Castro, o Algodão, foi tesoureiro dela no passado, e depois montou uma casa de câmbio.
O dono de fato da transportadora, conforme suspeitas mais antigas dos investigadores, é um policial civil aposentado. Bingo! Trata-se de David Augusto Sampaio, um sujeito bem relacionado com o presidente afastado da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani, parceirão de Sérgio Cabral.
A Trans Expert levava grana viva em carros de passeio, por exemplo, a Porto Alegre, território de uma família de doleiros que também acaba de ser encarcerada, os Albernaz. A principal atividade dos irmãos Paulo, Antonio e Athos, segundo Juca Bala e Tony, era vender moeda americana no exterior e arrecadar reais aqui, para entregá-los à Odebrecht e esta usar a bufunfa em subornos.
Em outras ocasiões, a verba ia para capital gaúcha a partir de Brasília, pelas mãos de outro doleiro preso, Francisco Araújo Costa Júnior, o Jubra. Os delatores contaram ter sido apresentados a Jubra pelo doleiro Lúcio Funaro, este mais conhecido. Os vínculos entre Porto Alegre, Brasília,
Funaro e doleiros são uma combinação picante para Michel Temer e seu chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, gaúcho. Temer e Padilha foram anfitriões, em 2010, de um jantar no Palácio do Jaburu com Marcelo Odebrecht, do qual surgiram 10 milhões de reais em doações da empreiteira ao MDB. Um receptor confesso do dinheiro do jantar foi José Yunes, amigo e ex-assessor de Temer.
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Uma das descobertas quanto ao sistema financeiro paralelo operado pelos doleiros tem uma pista contra Yunes e Temer que não se sabe ainda se as autoridades perceberam. Algumas trocas de grana em espécie da megarrede de doleiros aconteceram em um prédio na Avenida Faria Lima, número 3.144, em São Paulo.
Essa região é um dos centros financeiros do País, muita grana rola por ali. O prédio possui controle de acesso e salas que uma empresa chamada Regus aluga por períodos curtos de tempo, algumas horas. Parece algo planejado para dar guarida a clandestinidades. Um funcionário dos delatores, Walter Mesquita, contou ter ido lá para fechar negócios em uma sala da Regus. Os investigadores conseguiram a relação de visitantes do prédio e viram que emissários de doleiros de fato tinham ido lá.
Após a publicação desta reportagem, a Regus fez contato com CartaCapital para dizer que “o conteúdo discutido na sala de reunião não é de conhecimento ou mesmo propriedade da Regus, assim como ocorrem em um hotel, que loca quartos ou mesmo uma sala corporativa uma empresa que ali realiza seus negócios. Como em qualquer condomínio, ou empresa, na Regus as pessoas entram, se identificam e saem.”
Nesse mesmo prédio, e essa é uma informação que não consta da papelada que levou à prisão dos doleiros, há uma incorporadora imobiliária, a Leopoldo Green Empreendimentos e Participações, da qual Marcos, um filho de Yunes, é sócio.
Pistas à parte, no topo do sistema financeiro paralelo brasileiro está um sujeito que há um ano conseguia cidadania paraguaia e agora está foragido, Dario Messer, outra dor de cabeça para figurões. Messer é amigo do presidente do Paraguai, o empresário neoliberal Horacio Cartes, que em 2010 o chamou de “irmão de alma”.
As atividades uruguaias de Tony e Juca Bala foram acertadas com Messer, que não metia a mão na massa propriamente, arranjava clientes e mordia 60% dos lucros, como bom capitalista. Ele chegou a montar um banco em um paraíso fiscal, o EVG, em Antígua e Barbuda, na região do Caribe, para suas operações.
Está no ramo dos doleiros por razões de sangue, seu pai era dono de uma agência de turismo nos anos 1980. O Coaf tem um relatório incriminador contra ele, a citar movimentação bancária sem lastro da empresa DT Diatrade Comércio e Indústria, uma sociedade entre sua esposa, Rosana, e uma empregada de nome Elza.
Ronaldo Nazário, ex-jogador de futebol, é amigo dele, seus ex-empresários Reinaldo Pitta e Alexandre Martins foram sócios de Messer numa boate no Rio, a R9, além de presos duas vezes pela PF por safadezas em transações de futebolistas.
É bem possível que esse tipo de transação tenha abastecido com dólar o sistema financeiro paralelo. O dito “Fenômeno” fez campanha para Aécio na eleição de 2014, foi pró-impeachment de Dilma e queria Luciano Huck na Presidência em 2018, até conversou com o global a respeito, como contou em janeiro.
Desse tucano ambiente, há outro com laços, ao menos pretéritos, com Messer, o senador paulista José Serra. Segundo um relatório de peritos da Polícia Federal na época do Banestado, Messer teria ajudado um caixa de campanha serrista, Ricardo Sérgio, a levar dinheiro para fora. Uns 20 milhões de dólares chegaram a contas de Ricardo Sérgio com a ajuda de Messer entre 1996 e 2000, conforme o livro A Privataria Tucana.
A exemplo de Messer, vários doleiros no alvo da Operação Câmbio, Desligo, deflagrada em 3 de maio, são personagens conhecidos desde o escândalo do Banestado. Alguns dos presos de agora fizeram acordo com o Ministério Público e o juiz Sergio Moro, mas voltaram a aprontar, caso de Patricia Matalon, de uma família de doleiros paulistas.
As semelhanças entre os dois escândalos, ambos a resvalar em celebridades e figurões, fazem o senador Roberto Requião, do MDB do Paraná, ser cético quanto às investigações em curso.
Ele até hoje guarda em seu gabinete três volumes recheados de nomes e valores de quem usou o falecido Banco do Estado do Paraná como canal ilegal de dólares. “Isso tudo que vemos agora já estava no Banestado e não aconteceu nada.”
E agora, dará em nada de novo?