FHC não cansa de dizer, e com alguma razão, que trouxe a estabilidade econômica ao Brasil.
Isso, em si, seria uma razão para a posteridade dar a ele o valor de um grande presidente.
Mas ele, nos últimos tempos, está anulando sua, como os ingleses gostam de dizer, finest hour, o seu melhor momento.
É que ele está sabotando alucinadamente uma estabilidade que é muito mais importante que a econômica – a estabilidade política.
Com uma irresponsabilidade estridente intolerável em um octogenário, FHC comete um crime político ao defender a cassação de 54 milhões de votos.
É uma aberração sua tese de que Dilma deve renunciar. Para quê? Para abrir caminho para Aécio?
A renúncia de Jânio inaugurou um período tenebroso de instabilidade na política brasileira que durou quase trinta anos. Alguém quer ver isso de novo?
FHC repete, décadas depois, o Corvo, Carlos Lacerda, um dos personagens mais sinistros da história brasileira, um homem que se dedicou, a vida toda, a sabotar a democracia nacional.
A regra número 1 de um país civilizado é respeitar as urnas. Fora disso, é o dilúvio.
E o que FHC vem fazendo é isso: desrespeitar as urnas. Acintosamente. Cinicamente. Agarrado a argumentos e pretextos que vão variando de hora em hora, ao sabor das conveniências.
Qualquer tentativa de ver Dilma fora do Planalto antes de 2018 é golpe.
FHC se tornou exatamente isso: um golpista vulgar.
Fosse 2015 parecido com 1964, FHC estaria de esgueirando nos quarteis, tramando com generais a queda de um governo eleito, e na embaixada americana, fazendo a mesma coisa.
Mas nem os generais têm força hoje e nem os americanos se atrevem mais a tratar o Brasil como se fosse seu quintal.
E então FHC tem que recorrer a outros meios para concretizar os mesmos propósitos sórdidos do Corvo.
Jânio de Freitas notou, agudamente, que as contínuas tentativas de derrubar Dilma mostram, acima de tudo, a fragilidade da democracia brasileira.
E FHC tem tido um papel relevante no boicote à democracia.
Um jornalista americano que comanda a revista America’s Quartely escreveu, num artigo recente, que a deposição de Dilma com os pretextos patéticos que vem sendo apresentados por golpistas representaria o retrocesso do Brasil à era da República das Bananas.
Consumado o golpe, disse ele, por muito tempo os futuros presidentes brasileiros viveriam sob o risco de ser depostos a qualquer momento.
FHC tinha crédito pela estabilidade econômica.
Seu engajamento nas ações que promovem a instabilidade política – mais importante, repito, que a econômica – destruiu o crédito.
Agora ele está com um déficit monumental perante a história.
E dado o quanto ele avançou no abismo do golpismo descarado já não há nada que ele possa fazer para equilibrar essa contagem.