Por Claudio Lovato Filho, jornalista e escritor –
Não foram apenas vaias. Foi o retrato de um país que vive tempos de vale-tudo para chegar aonde quer – ou, mais correto dizer, aonde alguns querem.
Atletismo não é tênis, não é golfe, não é ginástica olímpica nem salto ornamental, mas não faz parte de seu universo a prática das vaias. As palmas, sim, e muito. É coisa comum ver atletas estrangeiros pedindo apoio à plateia, independentemente de onde se realiza a disputa. E a plateia sempre responde positivamente a esses pedidos. Aplaude. Apoia. É uma forma de demonstrar respeito e reconhecer o esforço feito por aquele atleta para estar ali – para chegar aonde chegou.
Depois das vaias, o francês Renaud falou bobagens, ofendeu o público e o Brasil e foi descortês com o campeão Thiago. Seu erro foi grande. Mas e se fosse o contrário? E se fosse Thiago no exterior, digamos na França, e o estádio inteiro viesse abaixo com apupos assim que ele começasse a se preparar para o salto? O que estaríamos dizendo agora dos franceses – e não só daqueles que estavam no estádio?
O espírito de vale-tudo no Brasil extrapola o universo esportivo, obviamente. As panelas que outrora se ouviam com frequência quase diária (abjeta trilha sonora de um golpe de estado) hoje não se manifestam mais, como se o país tivesse nascido de novo.
O espírito de vale-tudo não tem a ver com a vontade de vencer. Tem a ver com a vontade de ganhar de qualquer jeito, o que inclui “chegar lá” de forma ilegal, imoral, condenável. E isso nada tem de verdadeiramente vitorioso.
Thiago venceu. Seus torcedores no estádio e todos os que acharam corretas as vaias, não venceram.