O Estadão sendo “estadinho”

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Por René Ruschel, jornalista, Bem Blogado

A edição do jornal do O Estado de S. Paulo deste domingo, 23, faz duras críticas ao ex-presidente Lula. Afirma o diário da família Mesquita que o petista é “antidemocrático” e o “eleitorado está esquecendo quem é Lula”. Acusa-o de “promover uma campanha difamatória contra o Judiciário”, sugerindo que por trás de suas condenações, mesmo colegiadas com amplas provas, havia uma conspiração.




Trata-se de um arrazoado de ignomínias. Lula pode ter muitos defeitos, como qualquer ser humano, mas não lhe é imputável qualquer acusação de ser um antidemocrático.

Durante seus oito anos de governo, Lula cometeu um único deslize, mas logo reparado. Quando pediu, em 2004, o cancelamento do visto temporário do jornalista norte-americano, Willian Rohter Junior, do New York Times.

O repórter, em matéria publicada no diário nova-iorquino, o acusava de fazer uso de “bebidas alcoólicas”. Rohter se retratou e o governo cancelou o pedido dia depois. Talvez tenha servido como lição.

Afirmar que o eleitorado já esqueceu “quem é Lula” é de uma absoluta falta de análise critica. Todos, sem exceção, institutos de pesquisa mostram os índices de intenção de votos à sua candidatura e o colocam como favorito nas eleições de 2022.

Mais de 90% da população brasileira conhece a figura do ex-presidente. Amá-lo ou odiá-lo é uma decisão de foro íntimo, mas negar sua popularidade é caminhar na contramão dos fatos.  

Acusá-lo de “promover campanha contra o Judiciário” por suas condenações “mesmo colegiadas com amplas provas” é de um primarismo atroz.

O próprio Supremo Tribunal Federal reconheceu seus erros, embora não admitisse explicitamente, ao anular todo o processo da Operação Lava Jato e considerar o ex-juiz, Sérgio Moro, como suspeito para julgar o caso. Provas? Que provas?

Por que o jornal não estampou em suas páginas um fac-símile mostrando uma única evidência? Moro, em sua fatídica sentença deferiu a condenação do ex-presidente “por atos de oficio indeterminados”. Indeterminados?

O Estadão, mantendo uma histórica tradição, se coloca novamente na condição de porta-voz da elite do atraso.

Nas páginas de seu agora “estadinho”, defende os interesses da elite paulistana, do sistema financeiro, do agronegócio, da Fiesp, enfim, de uma parcela minoritária que se considera favorecida com botas e esporas para cavalgar no lombo de uma multidão de miseráveis.

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