O estupro dos 30, ou 33

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Por Fernando Molica, Blog do Molica – 

Não vi, e nem quero ver, as cenas do estupro de uma jovem por 30 ou 33 sujeitos. Não preciso ver para me sentir também estuprado, para condenar os facínoras – que sejam presos, condenados. E ressalto, foram 30 – ou 33. Não foi um estuprador, não foram dois, ou três. Foram 30, ou 33. Três dezenas de homens que ficaram excitados, que sentiram tesão, que não pensaram na vítima, que não se sentiram culpados.




Foram – repito – três dezenas de homens que ficaram excitados diante da perspectiva de estuprar uma adolescente. Não houve ali ninguém que gritasse ‘peraí, coitada da moça, melhor parar’. Todos achavam que faziam o certo.

Insisto que eles não devem ter perdão, que precisam ser condenados. E ressalto também que – longe de amenizar a culpa dos canalhas – é preciso pensar numa sociedade que produz três dezenas de homens que, reunidos, acham normal, e excitante, estuprar uma mulher.

Há quase dois anos, eu estava no Itaquerão, na abertura da Copa. E achei ouvir que o público mandava a Fifa – uma entidade, uma associação, uma pessoa jurídica – tomar no cu. Ei, Fifa, vai tomar no cu. Mas, não, eu ouvira errado, mandava-se a Dilma tomar no cu. Isto, numa expectativa de punição, de estupro, de violação. Eram mais de 60 mil pessoas que estimulavam o estupro de uma mulher, de uma sexagenária. Por acaso, ela era a presidente da República, mas isso não tem a menor importância. A violência era contra uma pessoa, contra uma mulher.

Nossa sociedade, moldada na escravidão, é violenta demais. Conseguiu associar a expressão “direitos humanos” a algo negativo, que precisa ser condenado – direitos humanos para humanos direitos, como tantos costumam vomitar. Uma sociedade que permite a violação das leis para que um inimigo seja punido, que delega à polícia o direito de matar alguém que seja visto como bandido. Uma sociedade que não respeita os diferentes, que só protege aqueles que considera iguais. Uma sociedade que, volta e meia, atribui à vítima a responsabilidade por um estupro.

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