O eterno condenado

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Por Ângelo Cavalcante, Via José Sérgio Rocha, Facebook

Na foto, Lula e dona Marisa quando ele foi preso, e logo depois absolvido, pelo regime militar. Repórteres abrem a passagem, entre eles José Nêumanne Pinto, e atrás do casal alguém muito parecido com FHC. Será o benedito?* (Ver nota do blog abaixo).




Lula está condenado! Surpresa? Não mesmo! Na verdade isso sequer é novidade. A questão é: em que instante da sua vida ele não esteve condenado? Podem me dizer?

Ora pois… O que irá marcar a própria existência de Lula são exatamente, formas distintas e variadas de condenações. O veredito condenatório lhe fora dado mesmo antes dele ter nascido. Mas é a mesmíssima condenação imputada para milhões de brasileiros e brasileiras do norte/nordeste do país; para o que restou de populações indígenas; às populações das favelas e periferias; aos camponeses sem-terra; aos moradores sem-teto; aos catadores; para enfim, mais de cinquenta mil jovens negros e executados anualmente e com a plena anuência do Estado.

Lula está condenado! Só que seu pecado é, de longe, o maior de todos: ele não admitiu a condenação que lhe fora imposta pelas classes dominantes desse país. Sua sina de eterno condenado já se deu em seu começo quando nasce nos sertões nordestinos onde crianças morriam aos montes, milhares, milhões pela falta do leite materno, pela diarreia ou pelo latifúndio.

Teimou e sobreviveu! Foi condenado na diáspora da qual era parte quando se mudou com a família para São Paulo na sacolejante carroceria de um pau-de-arara; fora, de novo, condenado quando não teve um pai para um miúdo abraço.

Foi condenado na vida pessoal quando perdeu sua esposa e seu filho porque a saúde… A saúde não estava lá; condenado de novo e mais uma vez, quando decide lutar pelos próprios direitos em meio a uma ditadura sangrenta e descontrolada.

Lula fora fichado, catalogado, preso e enquadrado na lei de segurança nacional como subversivo de alta periculosidade. São Paulo, a locomotiva do capitalismo brasileiro tremeu fundo com as greves pensadas e conduzidas por Lula e seus ‘compas’. O mundo viu, os generais se constrangeram, as burguesias enfurecidas e suicidas determinaram: “prenda e arrebente!”.

Não… Não é tão simples assim! O líder não pode ser morto! Quem entende um pouco da “arte da guerra” compreende o que digo! É que matar o líder é muito complicado. Da sua morte levantes, rebeldias e revoluções implacáveis podem surgir e daí e, quem sabe, uma nova ordem pode se estabelecer. A história por sinal, está recheada de exemplos. Melhor não! Os generais mais velhos entenderam o recado de Lula e declinaram! Perde-se os anéis mas não se pode perder os dedos.

O “eterno condenado” Lula saiu da prisão, refundou o movimento sindical do país; criou o principal partido de esquerda de todo o Ocidente; lançou debates fundamentais nas pautas políticas do país e vieram movimentos de mulheres, de camponeses, LGBT e toda essa constelação de identidades políticas e que tomaram conta da paisagem de lutas do país.

Lula, o “condenado” de tanto teimar e negar suas condenações “chegou lá” e se tornou o primeiro presidente operário da história desse país perverso. As burguesias? Ódio até as tampas! Mas o pior estava por vir porque em meio a erros e acertos, Lula produziu a melhor presidência da história brasileira.

E agora… Justo agora, tentam condenar Lula! É quase uma piada! Com alguma teoria se sabe que se compreende algo ou alguém na identificação da totalidade de sua história; o homem não é um instante, um lapso, um hiato; ao contrário, possui historicidade feita por ele, mas não só por ele. Ao fim, o indivíduo nasce em meio a relações e realidades materiais objetivas e concretas.

Lula entendeu sua história, na verdade uma grande maquinaria de moer gente, e precisamente por isso, soube superá-la; o que já era algo dado, líquido e certo falha feio com esse sertanejo e Luís Inácio se torna, enfim, Lula.

Lula condenado? Mesmo? Mas não me diga… A história, esta senhora vaidosa e caprichosa segue com seu humor sempre oscilante e imprevisível. Vamos ver o que nos dizem os outros “condenados”. Disso depende Lula e o Brasil!

Ângelo Cavalcante – Economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), campus Itumbiara.

* A pessoa atrás de Marisa e Lula, que o articulista diz ser FHC, é na verdade, o grande jornalista, lutador pela justiça social,  Perseu Abramo.

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