O Evangelho de Cristovam Buarque segundo FHC

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Por João Tavares, jornalista, para o Bem Blogado – 

Fernando Morais e outros tantos intelectuais não deviam gastar tanta vela com o defunto Cristovam Buarque. O posicionamento sempre dúbio e o apoio ao golpe para destituir a Presidenta Dilma é extremamente coerente com o que ele fez ao longo da vida. Seu discurso rococó só engana aos que querem ser enganados. Cristovam sempre surfou a favor da onda, foi brizolista enquanto lhe convinha, utilizou-se do PT enquanto a sigla foi útil aos seus propósitos e, agora, embarca de mala e cuia na nau dos insensatos golpistas de olho em benesses pessoais que virão embrulhadas em circunlóquios para manter a imerecida fama de intelectual que trocou a academia pela política.




Quem quer conhecer a fundo Cristovam Buarque basta pesquisar o que diz dele o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em seus dois primeiros volumes de ‘memórias seletivas’ FHC teve o mérito de manter o juízo que fazia à época dos fatos de alguns personagens ainda presentes na vida pública do país. Na leitura de FH, Cristovam não emerge como um intelectual, um acadêmico preocupado com a educação, um teórico político e muito menos como um hábil gestor. Ao contrário, em poucas referências para quem governou Brasília pelo mesmo período do primeiro mandato presidencial de FH, Cristovam surte retratado no seu devido tamanho: pequeno nos pensamentos e nas ações.

Ali é possível encontrar um político que se equilibra no PT, partido que o elegeu governador, e a bajulação pura e simples do então presidente Fernando Henrique. Nenhum grande projeto, nenhuma discussão relevante, apenas tricas e futricas embaladas por irrelevantes intervenções em convescotes no Planalto ou no Alvorada. Aliás, projeto surge um; o de vender o BRB, Banco Regional de Brasília, mesmo sabedor da contrariedade do PT e do movimento sindical com a proposta.

Para exemplificar, com a palavra o memorialista:

Ligações perigosas: “… depois recebi o José Roberto Arruda com Cristovam Buarque. Arruda mostrou ao Cristovam que é o seu interlocutor junto a mim…” (11/08/95 – Diários da Presidência Vol I).
Críticas ao PT que o acabara de eleger Governador: “… No jantar me encontrei com o Cristovam Buarque, muito queixoso da reunião que tivera com a bancada do PT sobre as reformas…” (10/10/95).
O bajulador: “Recebi o Cristovam Buarque, governador de Brasília, que fez alguns pedidos. Veio com a ideia que ele tem, permanentemente, de eu assumir a liderança de uma nova forma de desenvolvimento…”(08/01/96)
Neotucano: “… até brinquei que quem gosta de muro é tucano; perguntei se ele era tucano para amenizar um pouco o ambiente…” (25/04/96)
Preparando para mudar de barco: “… Cristovam quer preparar, depois das eleições uma negociação para aqueles que desejam uma alternativa para o que eles chamam de neoliberalismo, nome de que ele não gosta. Disse que eu devo ser o líder disso…”
Tentativa de venda do BRB: ”… O Cristovam quer vender o Banco Regional de Brasília… Disse que o PT vai fazer uma onda, mas ele acha a venda importante…” (12/12/96)
Erro histórico: “…O Cristovam sabe que o PT, no fundo, não tem mais saída… O Lula não tem mais futuro…” (27/02/96 – Diários da Presidência Vol II)
Neocapitalista: “…Outro dia o Cristovam Buarque disse que quem não quiser se administrador do capitalismo que não se coloque como candidato no momento atual…” (20/12/97)
Nem Lula, nem Brizola: “…Encontrei o Cristovam que me disse que ‘esse pessoal da oposição não é capaz de governar o Brasil, mas eu posso dizer isto’. Eu sei que ele não pode dizer, mas ele sabe que não dá para governar o Brasil na base de Lula, Brizola…” (18/06/98)
Serra e Cristovam: “…O Antonio Carlos (Magalhães) falou ontem do tucanato que estava atrapalhando, porque o Serra apoiou um pouco excessivamente o Cristovam Buarque em Brasília…” (22/10/98)
Fofoqueiro: “… É provável que todas as notícias que saíram no jornal tenham sido postas por ele, Cristovam, estão levemente distorcidas…” (12/12/96)

Se o tempo é o senhor da razão, o distanciamento histórico entre os fatos narrados despe ainda mais o atual Senador que das vestes da dignidade na vida pública não lhe restam mais nada, só uma mão na frente e outra atrás cobrindo um simulacro de vergonha.

Caso Paulo Henrique Amorim esteja certo, e o prêmio de Cristovam seja uma sinecura em Paris, a sabujice histórica terá dado resultado, embora com 20 anos de atraso.

Parabéns Cristovam! Você terá vencido para a vergonha de tantos quantos acreditaram em sua figura.

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