Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado
O atentado fascista ao ônibus da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Paraná paradoxalmente trouxe como consequência ao menos uma boa notícia: a união das esquerdas contra o fascismo. A presença ao ato de Curitiba, no dia seguinte aos tiros, de Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D´Ávila (PC do B) mostrou que é possível e necessária também a unidade diante da escalada fascista no Brasil.
A execução da vereadora carioca Marielle Franco, ainda não desvendada na investigação policial, e o atentado na estrada paranaense explicitam que o fascismo perdeu qualquer pudor. As cenas de violência no Sul do País contra a caravana de Lula foram estarrecedoras e públicas, desde a organização até a execução.
Estimulados por uma mídia irresponsável que os incensou durante o processo do golpe contra Dilma, grupos fascistas fazem da ação criminosa o que entendem ser ferramenta legítima no jogo democrático.
Como bem disse Boulos para justificar sua ida apressada a Curitiba, “com o fascismo não se brinca”. Não foi pouca coisa, portanto, a presença no palanque de Lula de dois adversários do PT na próxima campanha eleitoral.
Embora legítimas, as candidaturas de PSOL e PC do B vão disputar com os petistas os votos do campo popular. Mas tiveram a compreensão de que o inimigo comum é a extrema-direita.
Esse entendimento é mais fácil com o PC do B. Muitas alas do PSOL, infelizmente, apostam nem tão veladamente na derrocada do PT para avançarem no possível butim do campo popular. Mas a presença de Boulos, juntamente com o presidente nacional do partido, no ato de Curitiba mostrou que o sectarismo não é majoritário na legenda.
E como é possível avançar em temas unitários mesmo com candidaturas próprias à Presidência da República? Primeiro, continuando o combate que os três partidos mantêm desde o início contra o governo ilegítimo e sua política de saque a direitos sociais.
Depois, sentando-se à mesa para a discussão de atos e iniciativas contra a escalada fascista. A já demorada investigação sobre a execução de Marielle e o estranho caminho que a Polícia paranaense está tomando na apuração dos tiros mostram que é real o perigo de impunidade para os atos criminosos da extrema-direita.
Outro ponto que merece mais atenção das esquerdas brasileiras é a denúncia sobre assassinatos que se cometem semanalmente contra militantes políticos e sociais no interior brasileiro. Nas profundezas de Pará, Maranhão, Mato Grosso etc, grupos de pistoleiros, a soldo de ruralistas, matam agricultores e tudo fica por isso mesmo. No máximo, vão para a cadeia os que apertam o gatilho, e mesmo assim muito de vez em quando. Quem paga a a “pistolagem”, porém, permanece impune.
É necessário que na campanha eleitoral as candidaturas de esquerda tenham um compromisso com pontos comuns a todos. A denúncia do fascismo torna-se agora prioritária. Não se pode ter olhar de paisagem diante da inegável força demonstrada até agora por Bolsonaro.
Não é mais apenas um fenômeno de redes sociais, como alguns supunham. Uma camada pra lá de expressiva da classe média, principalmente no Sul e Sudeste do País, viu no fascista o porta-voz perfeito do que pensa. É um eleitorado, e uma militância sim, que estava hospedado temporariamente no PSDB
enquanto esperava a casa própria.
Esse é o perigo que ronda o Brasil. Enfim, agora que o jogo está claro, a responsabilidade é de PT, PSOL, PC do B e, quem sabe PDT. Como maior partido do campo progressista, cabe ao PT reconhecer o gesto das outras agremiações em Curitiba e passar da fase de lamentar ou criticar as candidaturas de outras legendas do campo popular. Há um espaço comum a todos. Cabe também, principalmente no PSOL, o combate à visão que prefere prioritariamente aniquilar o petismo. O inimigo é o fascismo e com ele de fato não se brinca.
