O exílio de Jean Wyllys e pra onde o ódio cego ao PT vai levando a gente

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Por Mariana Nassif, publicado em Jornal GGN – 

O Deputado Jean Wyllys, do PSOL, decidiu deixar o país esta semana. Nunca pensei que, aos quase 40 anos, vivenciaria um movimento de exílio tão descarado e, pasma com o contexto histórico – porque veja bem, isso precisa e será estudado no futuro, assim espero – leio e releio o tuíte do presidente da república, percebem o peso das palavras? PRESIDENTE DA REPÚBLICA, que postou “um grande dia”, seguido de um emoji com o sinal de joinha.

O exílio de Jean Wyllys e pra onde o ódio cego ao PT vai levando a gente

É assustador tanto quanto o próprio exílio que estejamos presenciando este momento assim, como expectadores imóveis, porque também estamos com medo. Medo de falar, medo de escrever, medo de estarmos por aqui enquanto isso aparece e a merda transborda seriamente por todos os lados mas tudo bem, porque pelo menos não é o PT.




E, desde que não seja o PT, está tudo bem: perguntei pra uma menina que conheço e que vez ou outra postava coisas contrárias ao Haddad no meu perfil no Facebook o que ela estava achando das alianças com as milícias, do desvio de dinheiro, da postura do presidente e sabe o que ela me respondeu? “Ah, mas vai dizer que o PT não fazia a mesma coisa?”. Quer dizer, o ódio cegou as pessoas, que sequer conseguem ter foco na pergunta direta e reta e discorrer sobre isso sem envolver a ladainha falaciosa de que o PT isso, o PT aquilo. Uma obsessão doentia, perigosa. Não estou querendo informações sobre o PT, nem opiniões. Estou querendo saber o que você acha do que o seu candidato tem feito e com o que está envolvido. Mas essa pergunta, claro, jamais será respondida. As técnicas de ódio e medo não permitem que as pessoas pensem, conscientemente, sobre os eventos reais, mas sim sobre a ameaça terrível da qual foram libertadas.

Enquanto isso, um deputado eleito abre mão do cargo e bate em retirada para se manter vivo. Se esta não é (mais) uma coisa séria no meio de um tanto de outras coisas sérias, eu não sei o que é. A pauta da Folha de S. Paulo de ontem dá conta de noticiar, então deixo o link aqui e me enredo apenas na sensação esquisita e na reflexão de que, é, começou. Aquela fase que tantos de nós insistimos em achar que talvez não fosse existir, que era só ameaça, “ele fala de brincadeirinha”, bem, essa fase chegou. Temos nosso primeiro gay pessoa pública exilado. Escrevo assim porque as pessoas privadas, especialmente os pretos e pobres, já estão em exílio, porém ainda em risco iminente de perderem suas vidas – e isso é tão literal que não sei como não está todo mundo enjoado, enojado e extremamente engajado em resgatar culturas de resistência e alterar este cenário.

Realmente, a vida fica muito mais difícil de ser vivida quando a gente percebe que privilégio, privilégio mesmo, só dá pra ser desfrutado quando todo mundo tem a mesma oportunidade e que, de um jeito ou de outro, é contra esse sentido de igualdade que o racismo, o fascismo e o mimo dos eleitores do ódio vem batalhando e, abra os olhos, isso em nada se diferencia do esquema sistemático entre a casa grande e a senzala – mas, desde que não seja o PT, tá tudo bem, e isso é a coisa mais triste que há.

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