Por Arnaldo César, publicado no blog de Marcelo Auler –
“O “Chefão” lá em cima não vai gostar disso não!”. No Brasil, quando não se tem argumentos convincentes ou não há paciência para se perder tempo com discussões prolongadas, lança-se mão desse velho e manjado truque. Às vezes, usa-se ‘o santo nome em vão” do superior hierárquico e, quando a coisa é séria apela-se até para Deus.
Quem já chefiou ou foi chefiado, certamente, já se deparou com tamanha falsidade. Hoje, não se faz nada neste País sem a aprovação do “mercado”. Trata-se de um ser inanimado que impõe à Nação reformas estruturais, acaba com direitos conquistados e coloca-se ou destitui-se presidente da República. Pouco se importando se ele foi eleito com a maioria dos votos.
Uma rápida leitura pelos principais veículos da grande imprensa, no ultimo domingo (dia 09/07), vamos nos deparar em reportagens, artigos, comentários e, especialmente, nos editoriais com centenas menções a este ser supremo do Brasil chamado “mercado”.
A sensação que se tem é que Executivo, Legislativo e Judiciário existem, única e exclusivamente, para satisfazer o fantasmagórico “mercado”. Dilma Rousseff foi golpeada porque não fazia o jogo do “mercado”. O impostor Temer foi para lugar dela porque contava com a simpatia do “mercado”.
O mesmo vale para as reformas da Previdência e do Trabalho. Se elas não forem feitas com a ligeireza e o jeitinho que o “mercado” exige, o Brasil estará condenado ao pior de todos os mundos. Ao caos. Reparem: além de tudo, esse “mercado” é um tremendo chantagista. Se não fizerem como ele manda, o País será despojado de novos investimentos e todos padecerão no fogo do inferno do desemprego, da miséria e da fome.Agora não conta mais. Com as bênçãos do “mercado” irão detoná-lo. Será substituído por Rodrigo Maia. Este sim, o político da hora, detentor, neste momento, de todos os beneplácitos do “mercado”. Só não se sabe por quanto tempo!
“Mercado”, no caso, são as forças vivas da economia. Ou seja, os bancos, as indústrias, os agronegócios, os bucaneiros em geral e as 72 mil famílias mais ricas e rentistas do País. São, enfim, as nossas elites. Antigamente, na época do sociólogo Gilberto Freyre costumava-se chamar isso de: “casa grande e senzala”. Só que de lá para cá, a situação ficou mais complicada e descarada.
Países capitalistas como a Alemanha, a França e até mesmo os Estados Unidos preocupam-se com a questão da previdência social. Mas, jamais sugeriram qualquer modificação destes direitos sem antes promoverem um amplo debate com as forças representativas de suas respectivas sociedades. Longe deles, tentar enfiar ajustes de tamanha magnitude goela abaixo da população.
Historicamente predadora, as elites econômicas brasileiras nunca assumiram qualquer responsabilidade social. Têm como paradigma os Estados Unidos. Só que não conseguem aprender nada com eles. Lá, quanto maior e estabilidade social e mais justa a distribuição de renda, o consumo se amplia e os ricos ficam cada vez mais ricos. Uma lição mais do que primária. Mas, de difícil compreensão pelos lados de cá.
É bom que todos saibam que o “mercado canarinho” detesta qualquer política distributivista. Como diria o personagem Caco Antibes, nossas elites têm “horror a pobre”. Esta é a razão pela qual, os golpes e contragolpes abençoados por ele fazem com que a miséria, a violência e a fome voltem a ser predominante por aqui.
Entre pagar os R$ 460 bilhões que sonegaram à Previdência e cortar o orçamento da “Bolsa Família”, o implacável “mercado” preferirá, sempre, a segunda opção. E, que se dane o resto! Ou melhor, que sejam atingidos por balas perdidas antes mesmo de virem ao mundo.
Visto pelo ângulo “mercado” assim terá que ser a democracia brasileira. Sempre marcada pela ignorância, rapinagem, hipocrisia, totalitarismo, descaramentos, Micheis Temer, Rodrigos Maia e ad caterva.
(*) Arnaldo César Ricci é jornalista e colaborador permanente do Blog