O Fascínio dos Trens nos trilhos de 2025

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Por Lourenço Paulillo, cronista e poeta

Qual criança não acompanha maravilhada o correr de um trenzinho elétrico numa loja de brinquedos? Fazendo curvas, atravessando pontes e túneis pelo caminho. Mais deslumbrada ficará se encontrar o trenzinho debaixo da árvore de Natal.





Aqui da chácara ouço o trem apitar ao longe, principalmente no silêncio da noite. E fico relembrando as poucas oportunidades que tive de viajar de trem. A mais marcante foi o percurso de Curitiba a Paranaguá, que no trecho de serra nos dá a sensação de estar flutuando no ar. Nada se vê ao redor, pelo que me lembro. Afinal, fiz essa viagem há cinquenta anos ou mais.


Outra vez peguei o trem que nos leva de São Paulo a Paranapiacaba – em tupi, lugar de onde se vê o mar – a pequena cidade envolta em eterna neblina. Neblina tão inglesa quanto as estruturas que da Inglaterra vieram para a construção da ferrovia.


Os trens trazem emoções, tão bem descritas na música “Encontros e Despedidas”, de Fernando Brant e Milton Nascimento:
“Todos os dias é um vai e vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais”.

Na plataforma há os que sorriem com as chegadas e os que se entristecem com as partidas. Esse misto de sentimentos é que dá o tom, comove, recortando momentos da vida.
Andar de trem é inspirador, como na letra de Trem Azul, de Lo Borges e Ronaldo Bastos:
“Coisas que a gente se esquece de dizer
Frases que o vento vem às vezes me lembrar
Coisas que ficaram muito tempo por dizer
Na canção do vento não se cansam de voar”.

Ou como na história cantada por Almir Sáter Trem do Pantanal:
“Enquanto este velho trem
Atravessa o Pantanal
Só o meu coração está batendo desiguaĺ
Ele agora sabe que o medo viaja também
Sobre os trilhos da terra
Rumo a Santa Cruz de La Sierra”.


Em 1930 Heitor Villa-Lobos compôs O Trenzinho do Caipira e em 1975 Ferreira Gullar criou a linda letra, inspirado pelas viagens que fazia com seu pai, quando criança, entre São Luís e Teresina:
“Lá vai o trem com o menino
Lá vai a vida a rodar
Lá vai ciranda e destino
Cidade e noite a girar
Lá vai o trem sem destino
Pro dia novo encontrar
Correndo vai pela terra
Vai pela serra, vai pelo mar”.

Ignácio de Loyola Brandão sempre conta que seu pai, ferroviário em Araraquara, foi despedir-se dele na estação. Aos vinte anos ele veio para São Paulo pela primeira vez, com a mala, a cara e a coragem, para dar início à nova etapa de sua vida, que o levou para a caminhada da escrita.


Fico pensando, certamente um trem-bala não tem o romantismo dos velhos trens, que serpenteiam devagar as estradas tortuosas. Tão mais interessantes quanto lentos, como os carinhosamente chamados de maria-fumaça. E a fumaça vai esvoaçando pelo verde da paisagem, pelos vales e colinas. Até me faz lembrar “O Filme de Minha Vida”, do Selton Mello, em que ele homenageia o saudoso Rolando Boldrin, numa curta aparição como o velho maquinista.


São tantas as ferrovias desativadas no Brasil. Restam as antigas estações, muitas delas hoje abrigando pequenos museus e casas de cultura. Memórias guardadas e expostas às novas gerações. Na verdade, aos poucos que as frequentam.


Em nosso país o trem mais popular é sem dúvida o Trem das Onze, do singular Adoniran Barbosa:
“Não posso ficar nem mais um minuto com você
Sinto muito amor, mas não pode ser
Moro em Jaçanã, se eu perder esse trem
Que sai agora às onze horas
Só amanhã de manhã”.


Mera invenção, ele nunca morou no Jaçanã, apenas procurava uma rima para a palavra manhã. Coisas do Adoniran.


Como diria Gilberto Gil:
“Vai sair de cena o Expresso 2024
E começar a circular o Expresso 2025″.

Que ele venha carregado de esperança renovada, notícias positivas, saúde e sonhos.

Feliz Ano Novo!

Foto: trenzinho de Paranapiacaba/SP

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