Ela pode ter uma variante quase gêmea, já identificada em quarenta países e ainda mais transmissível. Pode ser grande risco, face ao atual relaxamento das restrições sociais. A fase de emergência pode estar no fim, alerta a OMS, mas a pandemia está longe de terminar
Por Flávio Dieguez, compartilhado de Outras Palavras
Conforme a agência Deutsche Welle, o país mais afetado até agora é a Dinamarca, com 79% dos casos detectados, vindo a seguir o Reino Unido (6%), Índia (5%), Suécia (2%) e Cingapura (2%). Mas não se sabe a disseminação real da ômicron-2 porque sua detecção depende da capacidade de sequenciá-la: ela escapa aos testes rápidos de PCR. A revista americana Newsweek também ecoou o alerta em um artigo intitulado “Subvariante furtiva ômicron BA.2 encontrada em quase metade dos estados dos EUA”.
Os novos casos, onde foi possível contabilizar, são ainda muito poucos. São menos de 100 nos EUA, diz Newsweek, relatando que, para o pesquisador Anders Fomsgaard, do Statens Serum Institut, dinamarquês, as pessoas que já tiveram a ômicron BA.1 podem ser reinfectadas com a BA.2, que tem ligeiras diferenças em relação à BA.1.
A diretora da Agência de Segurança Sanitária inglesa, Meera Chand, disse à Deutsche Welle que a BA.2 está em observação, e que ainda não há evidências de que BA.2 causa progressão da doença mais grave do que a BA.1. A OMS (Organização Mundial da Saúde) também não manifestou preocupação. Apenas declarou que as investigações de BA.2 devem ser priorizadas. Ela pode ser muito infecciosa, mas o número de casos é ainda muito baixo, na ordem de alguns milhares.
O alarme soou, conforme o jornal The Guardian há duas semanas, quando o número de casos quadruplicou de um dia para o outro na Inglaterra. Mas o aumento foi de 101 para 437 casos, apenas. É verdade que na Dinamarca a BA.2 já representa 47% dos novos casos, ou quase vinte mil casos. Mas a Dinamarca concentra quase todos os casos (79%, como mencionado acima). Ainda assim, o problema persiste porque está em curso um relaxamento nos cuidados com a covid.
E essa descontração – compreensível, após dois anos de sufoco – talvez seja excessiva face à possibilidade de um novo agravamento das infecções por novas variantes. O mesmo Guardian ponderou na edição de ontem (26/1) que a Holanda suspendeu seus controles mais rígidos. A Dinamarca há duas semanas reabriu cinemas e casas de shows e deve remover todas as restrições em 1°/2. A França começará a diminuir as restrições na próxima semana e a Bélgica também deve seguir essa linha.
Muitos países da UE optaram por retomar as atividades, escreve o jornal, apesar de as infecções continuarem explosivas. O que se pode esperar é a reabertura de casas noturnas; que restaurantes sirvam bebida após as 22h; que mais clientes possam permanecer nas lojas; o fim dos certificados de vacinação e do uso de máscara pelos passageiros. O diretor da OMS na Europa, Hans Kluge, sublinhou essa semana a situação ambígua da pandemia.
Como reportou o site Euronews, Kluge afirmou que a Europa pode estar caminhando para “uma espécie de final de pandemia”. Há riscos, observou ele, já que outras variantes sempre podem surgir. “A pandemia está longe de terminar”, alertou. Apesar disso, considerou que a tendência é menos aflitiva. “Espero que possamos encerrar a fase de emergência em 2022, e abordar outras ameaças à saúde que exigem nossa atenção urgentemente”.
Desenha-se no horizonte, portanto, uma dupla trilha à frente, em que se busca equilibrar a tendência de relaxamento das restrições, sem no entanto dar um perigoso passo maior que as pernas. A Alemanha ontem (25/1) forneceu um exemplo da necessidade desse equilíbrio. Após registrar um novo recorde de 164.000 infecções em 24 horas, começou a se preparar para ampliar a vacinação e, se possível, controlar os não-vacinados. Com 74% da população vacinada com ao menos uma dose, está menos protegida que a França, Itália ou Espanha. Pode vir a exigir que todos os residentes adultos sejam vacinados.