O fim do jornalismo

Compartilhe:

Por Ulisses Capozzoli, no Facebook

Se o distinto público alimentava dúvidas quanto ao fim do jornalismo, o Roda Viva com Fernando Haddad se encarregou de demonstrar. Tanto pelo despreparo quanto pela pretensão dos entrevistadores (eu diria com uma única exceção).




Primeiro que uma boa entrevista, um bom questionamento, é sempre um diálogo. Algo como uma conversa numa sala de jantar. O que vimos hoje (já é ontem…) foram cenas de pugilato. Cada um demonstrando mais vontade de golpear que o outro. Para demonstrar o que? Que a alternativa vale a pena? Que o outro candidato é que é consistente?

Além do mais, partir para o enfrentamento, já que estamos falando em ringue, exige preparação. O que essa gente não tem. Jornalistas que cobrem economia se alimentam de informações sobre transações,negócios aqui e ali. Quem comprou, quem está vendendo. Boa parte das notícias plantadas para produzir efeito no mercado (que um dos entrevistadores interpretou como “o mercado somos todos nós!) ”. E os que cobrem política não são diferentes.

Já ouvi a justificativa de que “não tem tempo para estudar”. Estudar um pouco de história do Brasil, algo razoável para um jornalista. Lamentável. Lamentável mais real.

O fim do jornalismo entre nós começou na “Folha de S. Paulo”, em meados dos anos 1980, com a introdução do texto modulado. O jornalismo modulado, burocrático com o fechamento de um balanço executado por um guarda-livros do passado. Módulo 100, módulo 200, módulo 300, o maior, dependendo do volume, mínimo do texto.

Mas essa farsa foi vendida como “revolução” e ainda hoje é possível ler, um sabujo aqui e outro ali, com a versão de que teria havido uma revolução. Os outros jornais não perderam tempo. Só demoraram um pouco mais. No caso do “Estadão”, agora estatelado no ringue por insuficiência respiratória, e confirmado no debate, o desastre começou com a morte de Júlio de Mesquita Neto. Ele deu estrutura e estatura ao jornal, enquanto foi seu diretor.

O “Estadão” era conservador? Sem dúvida. Mas mais reativo e comprometido com valores que a “Folha”, que durante a ditatura não tinha editorial. Alguém pode refletir, um par de minutos, sobre o significado de um jornal sem editorial?

Júlio de Mesquita Neto, que apoiou o Golpe de 64 (“Movimento de 64, segundo o Toffolli, presidente do STF, evidência de que a descompostura se espalha em todas as direções), mas reagiu à brutalidade e resistiu com determinação.

A história é longa e interessante, mas não cabe ser contada aqui. Apenas para dizer que o Roda Viva atesta o fim do jornalismo entre nós. Melhor seguir as telenovelas, para quem tem dificuldade de pegar no sono.

O Bem Blogado precisa de você para melhor informar você

Há sete anos, diariamente, levamos até você as mais importantes notícias e análises sobre os principais acontecimentos.

Recentemente, reestruturamos nosso layout a fim de facilitar a leitura e o entendimento dos textos apresentados.
Para dar continuidade e manter o site no ar, com qualidade e independência, dependemos do suporte financeiro de você, leitor, uma vez que os anúncios automáticos não cobrem nossos custos.
Para colaborar faça um PIX no valor que julgar justo.

Chave do Pix: bemblogado@gmail.com

Tags

Compartilhe:

Categorias