O ‘Fracasso’ que Deu Certo: Como a China Superou as Limitações das Joint Ventures com os Veículos Elétricos

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Por muito tempo, a estratégia chinesa de desenvolvimento industrial foi baseada em joint ventures (JVs) com empresas estrangeiras, especialmente no setor automotivo.

Por Paulo Gala, compartilhado de seu Blog




Essas parcerias eram exigidas pelo governo como condição para que montadoras ocidentais e japonesas operassem na China, permitindo que o país adquirisse tecnologia e know-how produtivo. No entanto, uma crítica recorrente era a limitação dessas JVs na transferência efetiva de tecnologia: as montadoras estrangeiras controlavam os principais segredos industriais e não permitiam que suas parceiras chinesas desenvolvessem produtos independentes e competitivos no mercado global. Durante anos, analistas e economistas debatiam por que essa estratégia “não tinha dado certo” no sentido de criar campeões nacionais capazes de desafiar as gigantes ocidentais.

O grande ponto de inflexão veio com a revolução dos veículos elétricos (EVs). Diferente dos motores a combustão, onde as montadoras estrangeiras dominavam décadas de engenharia refinada, os EVs representaram uma nova corrida tecnológica, em que ninguém tinha uma vantagem absoluta no início. A China soube explorar essa janela de oportunidade, combinando investimentos massivos em baterias, infraestrutura e incentivos de mercado para suas empresas. Com isso, marcas como BYD, NIO e XPeng passaram a dominar o setor, enquanto montadoras tradicionais, antes dominantes por meio das JVs, ficaram para trás. A Tesla, por exemplo, conseguiu entrar na China sem uma JV, mas o resultado foi a aceleração do setor como um todo, beneficiando mais as empresas chinesas do que as estrangeiras.

O sucesso da China na indústria de EVs mostra como a política industrial do país soube aprender com suas próprias limitações e adaptá-las ao contexto tecnológico. Hoje, montadoras chinesas não só dominam o mercado interno como começam a desafiar marcas ocidentais globalmente, vendendo EVs competitivos na Europa e América Latina. A ironia é evidente: enquanto no Ocidente se discute a “estagnação industrial” e a dificuldade de criar indústrias competitivas, a China debate por que as JVs “não deram certo” — apesar de terem sido um trampolim essencial para a posição dominante que as empresas chinesas ocupam agora. Se esse é um “fracasso”, é um que muitos países gostariam de ter. 

A China consolidou sua liderança na indústria de veículos elétricos (EVs) com diversas marcas que hoje competem globalmente. Entre os principais exemplos de sucesso estão:

1. BYD – Fundada como uma fabricante de baterias, a BYD se tornou a maior vendedora de EVs do mundo, ultrapassando a Tesla em vendas globais no final de 2023. Com uma linha completa de modelos, desde o compacto Dolphin até o luxuoso Han, a empresa domina o mercado chinês e expande agressivamente para a Europa e América Latina.

2. NIO – Conhecida por seus veículos premium e inovação em troca rápida de baterias (battery swapping), a NIO se posiciona como a “Tesla chinesa”. Seus SUVs e sedãs elétricos, como o ES8 e o ET7, ganharam espaço no mercado de luxo, especialmente na China e na Noruega.

3. XPeng – Focada em tecnologia avançada, a XPeng investe pesado em condução autônoma e inteligência artificial. O sedã P7 e o SUV G9 já competem com Tesla e outras montadoras em mercados internacionais.

4. Li Auto – Destaca-se por seus veículos elétricos com extensor de autonomia (range extenders), uma abordagem que combina eficiência elétrica com a segurança de um gerador a gasolina. O Li L9 e o L8 são alguns dos SUVs mais vendidos na China.

5. Geely (Zeekr e Polestar) – A Geely, que controla marcas como Volvo e Lotus, criou a Zeekr como sua divisão premium de EVs e também desenvolve a Polestar em parceria com a Volvo. Ambas têm forte presença global e alta tecnologia embarcada.

Essas marcas não só lideram na China como estão conquistando espaço na Europa, América Latina e, em alguns casos, até nos Estados Unidos, desafiando gigantes tradicionais da indústria automotiva.

A Xiaomi entrou recentemente no mercado de veículos elétricos com um impacto significativo. Em 2024, a empresa lançou seu primeiro EV, o Xiaomi SU7, um sedã esportivo de alto desempenho que busca competir diretamente com o Tesla Model S e o Porsche Taycan. O SU7 impressionou pelo design sofisticado, tecnologia avançada e integração total com o ecossistema da Xiaomi, algo inédito na indústria automotiva.

O grande diferencial da Xiaomi no setor de EVs é sua experiência em eletrônica e software. A empresa aposta em uma abordagem “smart EV”, com sistemas de condução autônoma de última geração, conectividade com outros dispositivos Xiaomi e uma interface integrada ao ecossistema de smartphones e smart homes da marca. Além disso, a Xiaomi desenvolveu sua própria arquitetura elétrica chamada Xiaomi HyperOS, prometendo uma experiência digital fluida entre o carro e os dispositivos dos usuários.

Embora ainda seja um novato no setor, a Xiaomi já mostrou sua capacidade de inovação e fabricação em larga escala, além de contar com uma base de consumidores leais. Se conseguir escalar a produção e manter preços competitivos, pode se tornar um dos principais players do mercado global de EVs, especialmente na China e em regiões onde sua marca já é forte, como a Índia e a Europa.

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