Por Pio Redondo, Facebook –
Um dos meus amados filhos fez aniversário nesse domingo. Como nos últimos anos, fomos em Pinheiros, comemorar no mesmo restaurante. Ele gosta de lá, comida italiana, que lembra a da vó Maria, infinitamente melhor.
Farta, de qualidade, preço bom. Um canto em que nos reencontramos para o nosso ‘Êba’
Antes, na porta de entrada, a fila de espera e um menino magrinho, roupa não puída, vendendo panos de pratos feitos no capricho. R$10. Quase implorando.
Vacilei, o babaca aqui não comprou. Custava nada, nada mesmo, aliviar um milimetro o lado do garoto frágil. Silenciamos todos, e ele foi descendo pelas portas dos restaurantes da rua Pinheiros.
O dia foi imensamente feliz pra nós todos, mas até agora, a imagem do garoto caminhando pela tarde do domingo, com sua obrigação, não saiu da cabeça.
Tem umas lembranças desse brasilsão desigual que ficam por anos, e não sei dizer por qual motivo, o flagelo crava.
Talvez uma provável confusão entre a solidariedade e a culpa. Talvez uma impotência, talvez qualquer coisa.
Mas, caramba, culpa de quê, se não fomos nós que colocamos o menino de volta à calçada, no meio desse retrocesso brutal. Aviso não faltou!
Ao contrário, incontáveis vezes, pagamos o preço que a contracorrente impõe. Até o talo.
Mas, bem abaixo disso – pagar o preço da convicção – ninguém merece a vida de pedinte. Nem velho, nem criança, sequer um passarinho, um cão abandonado na contramão da vida, das possibilidades.
Ainda mais se planejada por quem tem até perder a conta.
Vai ter volta. Não tem desconto.