Luiz Antonio Simas pelo Facebook –
O editorial de ontem de O Globo (um jornal capitão do mato que presta satisfações ao alpendre da casa-grande e é mantido por ele) defendendo o fim do ensino público superior no Brasil, com o argumento aparentemente falso de que a universidade pública é covil de quem pode pagar, surpreendeu a quem? A ideia é começar a cobrar e depois entregar às corporações empresariais do ensino e a mim é que não engana; ou alguém imagina o jornalão se engajando na ideia da educação pública, laica, universal e plural?
O Globo apenas perdeu o pudor. Alguns de seus profissionais (dignos e da melhor qualidade) até fazem isso em suas brechas (oxalá continuem fazendo), mas a natureza do tamanduá não é exatamente a de defender a liberdade das formigas. Ele, o editorial, é compatível com uma visão de mundo em que a vida não pode ser uma aventura existencial, ou mesmo uma miúda experiência cotidiana de fazeres inventivos, para se transformar em um grande empreendimento de gestão.
Vivemos em uma grande empresa: a cidade é empresa, a escola é empresa, o botequim é empresa, a universidade é empresa, a imprensa é empresa, o hospital é empresa, a igreja é empresa, a rapinagem é empresa, a escola de samba é empresa, o time de futebol é empresa, o planeta é empresa, a morte do rio é empresa…
Como toda empresa, o mundo tem os seus gestores, os consumidores do que é gestado, os empregados dos gestores (sobreviventes) e as sobras viventes, aquelas fadadas a não se enquadrar no mundo como empreendimento pragmático: não são gestoras, não trabalham para os gestores, não são potencialmente consumidoras do produto que a empresa produz.
O Globo acha que a universidade é um empreendimento que deve prioritariamente dar lucro. Produzir conhecimento de ponta, ampliar conexões entre pessoas, aprimorar pensamentos e capacitar para o trabalho são atividades de menor importância. Se vierem acompanhadas do lucro, está ótimo. Se não for assim, que desapareçam do mundo desencantado, aquele entendido e projetado como um grande, de novo ele, empreendimento colonial de gestão.