Washington Luiz de Araújo, jornalista –
Corremos o risco de um dia ouvir de que a culpa do “roubo” da Educação e Saúde, da Previdência das camadas mais pobres é nossa, da esquerda. Poderão dizer que não os alertamos suficientemente; que não chamamos à atenção da classe média, que se iludiu com os golpistas, achando que era só derrubar Dilma para o mundo ficar cor de rosa. Corremos o risco de ouvir que a responsabilidade foi nossa, pois não protestamos o suficiente para que ouvissem o clamor contra os desmandos que destruíram o país, que transformaram, definitivamente, o Brasil numa republiqueta de bananas, serviçal dos Estados Unidos, do capital dominante. Um país sem pré-sal, sem Educação, sem Saúde, sem aposentadoria.
Pensando nisso, lembrei-me de um amigo muito teimoso que adquiriu um galpão como depósito de mercadorias. Este foi procurar um engenheiro da turma para que o orientasse a respeito de uma coisa que o estava encafifando: uma pilastra bem no meio do galpão. Pensava o amigo que se tirasse a tal pilastra ganharia mais espaço para colocar mais mercadoria.
De pronto, foi desaconselhado pelo engenheiro, que não quis nem pensar em pegar a empreitada, pois sabia que se tirasse a pilastra, o galpão cairia.
Não satisfeito, o teimoso proprietário do galpão resolveu, por conta própria, tirar aquela viga de sustentação. De sustentação mesmo, pois foi só tirar e ver o galpão se esparramar no chão, quase em sua cabeça.
Não se deu por vencido com o ato tresloucado e foi procurar o engenheiro, acusando-o de não ter usado de argumentos firmes para que não derrubasse aquela viga. Culpa do engenheiro que não o convenceu.
A viga de sustentação da democracia brasileira chama-se presidência de República, mantida pelo voto da população. Grande parte da população caiu no conto de que se esta “pilastra” fosse derrubada todos ganhariam muito mais. Todos, menos os pobres. Aliás, um dos motivos para tirar a “pilastra” Dilma Rousseff era a de que esta estava dando muito dinheiro para os pobres, com Bolsa Família e acesso às universidades públicas e Mais Médicos, entre outras conquistas.
Tirou-se a viga e o país esparramou-se no chão; no primeiro momento na cabeça dos pobres, mas no rescaldo a classe média também sofrerá forte impacto. Pois é, chegará o dia em que dirão que não os convencemos firmemente sobre o que poderia acontecer. Portanto, culpa nossa. Que reclamem lá na Rede Globo.