Washington Luiz de Araújo, jornalista –
Tem coisas que ficam na cabeça da gente, coisas que um dia podemos relembrar. Uma delas foi num voo de Brasília para o Rio de Janeiro, em 2011. Já era noite e o avião estava lotado. Naquela arrumação característica antes do voo, sentei-me na poltrona para mim reservada: uma janela, quase no fundo da aeronave.
Já havia uma pessoa sentada na poltrona do corredor e eu fiquei naquela torcida, característica do egoismo humano, para que ninguém se sentasse na poltrona do meio.
Pensando nisso, vem um rapaz gordinho, todo engravatado, pasta 007, em minha direção. E eu ali matutando: só falta este rapaz sentar aqui no meio.
Não deu outra. Que me perdoem os mais rechonchudos, mas é muito incômodo um gordinho numa poltrona do meio. Incômodo para ele, lógico, e para os passageiros das laterais, ainda mais para o da janela.
E o pior: o rapaz resolveu sacar o celular, com seu cotovelo quase no meu peito. E eu ali, apertado, não podia deixar de ouvir a conversa quase infantil do rapaz: “Papai tem muito interesse em ver este projeto aprovado. Eu estou arregimentando colegas para que votemos neste projeto que é de interesse de papai”.
E continuou neste papai quer, papai pediu, papai vai ser grato… Até a comissária de bordo pedir, educadamente, para que o filhinho do papai desligasse o celular.
E eu ali, forçando a mente para lembrar quem era aquele rapaz. Sabia que o conhecia de algum lugar. Chegando ao Rio, avião aterrissado, vem um passageiro e cumprimenta meu parceiro de voo: “Deputado Rodrigo Maia, como vai o senhor?”.
Este está na fila para ocupar a presidência da República. Apesar de todas as delações que pesam contra o filhinho, papai deve querer muito. Mas nós não queremos ter este passageiro incômodo entre nós. Diretas Já!!!!!