João Candido Portinari, anuncia por uma matéria pelo UOL e assinada pelo Jamil Chade, que o Projeto Portinari, que divulga as pinturas de seu pai, Cândido Portinari, está ameaçado por falta de patrocinadores.
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Nenhum deles apresenta qualquer motivo senão o previsível: problemas econômicos que os está impedindo de continuarem a sustentar o projeto. João Candido, uma pessoa amável, um homem gentil, que tem levado adiante a ideia de fazer que a obra de seu pai seja conhecida não só no Brasil, não acusa ninguém em particular, mas se pode adivinhar. A situação econômica do País, vai, pelas estatísticas macroeconômicas, muito bem obrigado, mas a palavra macro talvez explique não apenas a baixa popularidade do governo no qual muito depositamos nossas esperanças depois do bolsonarismo, mas algo que não se vê – a marca cultural da administração Lula.
Não é uma suposição que o Ministério da Cultura não aparece no panorama cultural brasileiro. Pode ser apenas uma hipótese, que as ações voltadas à toda a cultura, ou seja, aquela dos concertos, da grande literatura e da arte e a cultura popular não apareçam porque a primeira seja escassa ou não suficientemente divulgada, e a outra, mais popularizada, ninguém veja por que o Brasil a ignora. Mas se as razões forem as de que o tema não interesse muito a começar pelo governo, a coisa é grave. A cultura é a única atividade virtual que por isso mesmo está condenada à “eternidade” – condição que marca uma época, seja pelo que não foi feito na área, como aconteceu durante a ditadura, seja pelo que se faz e ninguém conhece, porque justamente não é feito.
O governo mais conhecido por sua atividade artística, foi o que sabemos vulgarmente constituir a “era Vargas”. Dela herdamos Villa-Lobos, Mário de Andrade, Oswaldo Goeldi, e muitos mais, em que o nome de Candido Portinari nunca foi uma figura menor. Pode-se discuti-los ou negar-lhes a importância, mas eles são nossa marca. Por vezes como uma incômoda inscrição gravada a ferro e fogo. Outras como uma lembrança de algo fora de moda.
No entanto, somos visíveis no mundo, também por causa deles, ou fundamentalmente por eles.
A questão cultural não existe como algo independente na nossa existência. Se falamos do mundo helênico, temos de recorrer aos museus. Se é música, dificilmente nos livramos de Beethoven, Stravinski ou Gershwin. É nele que embarcamos para avaliar um país. A Finlândia, aprendemos na escola, seria uma extensa terra gelada e, quem sabe, inóspita. Mas quando dela escultamos Sibelius, algo nos comove para além das trundas, dos dias sem fim, da aurora boreal. A Finlândia vira então um suspiro. A música é o arfar da história. A Rússia não é a Rússia sem Dostoiévski, Tchaikovsky, Púchkin, e então nos lembramos da revolução bolchevique e Putin, para o bem ou para o mal, não é um nome solto. Temos então uma história.
Lula é um nome mundial. Por menos importância que demos aos Oscars americanos, o “Ainda estou aqui” do Walter Salles contará ao mundo, muito mais do que os livros de história ou as denúncias que fizemos, sobre a Ditadura Militar recente e seu espectro a nos rondar constantemente.
Enfim, João Candido, filho de Portinari, está pedindo socorro em nome da cultura representada pela grande obra de seu pai, goste-se ou não dela. Está na hora de o Ministério da Cultura do governo Lula dizer ao que veio, e ao porquê da sua existência. Quando menos para deixar claro que a iniciativa privada tão cantada em prosa e verso como nos bombardeia a imprensa, a grande imprensa, não dispensa, não pode dispensar o Estado, jamais.
Enio Squeff, artista plástico
Retirantes, 1944, Candido Portinari
Código FCO-2733 | CR 2054
Dimensão: 190 x 180 cm
Tipo de Obra: Painel
Técnica: óleo
Suporte: tela