O homem de pé no estádio

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 Por Cláudio Lovato, jornalista e escritor – 

O homem está de pé e olha para o velho ídolo que acena da pista atlética. O homem está acompanhado do filho e o lugar que ocupam agora é muito próximo do lugar em que, muitos anos antes, 36 anos exatamente, o homem e seu próprio pai assistiram ao ex-jogador gordo e grisalho que agora recebe os aplausos do estádio lotado acabar com um jogo e humilhar os adversários com dribles impossíveis e fazer três gols que se eternizaram na memória de todos os que estavam lá como fábulas aprendidas em certa idade inocente e que são levadas para o túmulo.




Ao lembrar do pai e ao olhar para o filho, agora ao seu lado, e ao aplaudir seu velho ídolo, que caminha com lentidão pela pista, o homem pensa que não é possível que isso, essa cena, essa situação, essa repetição de circunstâncias, essa reiteração estranha e bela não tenha um significado especial, mas por fim ele se convence que não, que não há ali qualquer sentido mágico ou mensagem extraordinária ou evento místico, mas que se trata apenas do tempo passando, apenas isso, o tempo passando e a vida acontecendo e a vida passando, e talvez isso seja tudo o que existe de especial nessa referida e a princípio milagrosa cena.

O velho ídolo acena mais algum tempo, posa para fotografias e então se dirige ao túnel que leva aos vestiários. Ele usa uma camisa número 9, de centroavante, com seu nome às costas, presente do clube, e veste uma calça social marrom e está feliz e sorri, mas o caminhar é cansado, como se suas pernas arqueadas já não oferecessem mais a base necessária para o peso do corpo e a cada passo fossem ficando mais e mais arqueadas, a caminho de tornarem-se um círculo alarmante e inevitável. E é então que o filho bate de leve no ombro do homem, o homem que é seu pai, e lhe diz para sentar-se (“Senta, pai, senta”), que o jogo já vai começar (“O jogo já vai começar, pai”) e que essa é uma partida que eles têm de vencer de qualquer maneira, porque é a única forma de seguirem vivos no campeonato, seguirem vivos, é isso o que o filho diz ao pai, seguirem vivos, e isso talvez seja tudo o que interessa.

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