Por Adriana do Amaral, jornalista
A primeira dama do Brasil, Michelle Bolsonaro, resolveu aparecer. Desta vez, ela não usou a Língua Brasileira de Sinais para celebrar o 31º aniversário da Lei de Cotas (Lei Federal 8213/91), comemorada recentemente, mas para dizer que o seu marido, o atual presidente do Brasil, “ama as mulheres”. Só que não.
Amaria as mulheres àquele que as deixou morrerem pela demora em implantar a Política Nacional de Vacinação contra a Covid-19? Amaria as mulheres àquele que não se comoveu diante da dor e lágrimas das viúvas, filhas e mães dos brasileiros e brasileiras que sucumbiram à pandemia por falta de tratamento e até enterro decente?
Amaria as mulheres àquele que permite que as mulheres morram, ou testemunharam suas famílias passarem fome no Brasil? Amaria as mulheres àquele que se regala enquanto o seu povo toma sopa de osso fervida em água não tratada?
Amaria as mulheres àquele que pratica a misoginia em voz e ações? Àquele que ironiza as mulheres em sua luta contra o machismo, o racismo, a xenofobia, espalhando ódio contra mulheres trans/lgbtquia+?
Amaria as mulheres àquele que discrimina, insulta e agride seus pares que usam saias ou trabalham nas diversas profissões Brasil afora?
Amaria as mulheres àquele que minimiza a violência sexual, e o risco do estupro nas esquinas no caminho da casa-trabalho, e que criminaliza o aborto? Amaria as mulheres àquele que não protege os filhos das mulheres pobres brasileiras enquanto zela pelos interesses dos próprios rebentos?
Amaria as mulheres àquele que não lamenta a morte dos companheiros, filhos, netos e vizinhos nas chacinas? Amaria as mulheres àquele que parece não ver que a população em situação de rua aumentar a olhos vistos vitimando principalmente as mulheres que sofrem muitas das consequências dos desamores listados acima?
Michele, você parece adorar alguém como se adorar Deus. Inclusive, fala na palavra de Deus.
Eu pergunto: seria o meu Deus, que prega a prática do amor sobre todas as coisas, diferente do seu? Amor assim não vale amar… Talvez, Michelle, você apenas não saiba o que é o amor.
Foto: Elineudo Meira / Brasil de Fato