O homem que inventou o fair play

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Publicado no Blog do Quartarollo, no Portal Jovem Pan – 

Hoje a frase já é muito batida. Todo mundo a repete a exaustão, mas em 1962 ninguém imaginava que era preciso cunhar o jogo limpo pois o jogo já devia ser limpo por natureza.

Também haviam os mais agressivos, aqueles que queriam ganhar a todo custo e de qualquer jeito.




Mas um gesto marcou a história para sempre. Virou símbolo de respeito humano, de dignidade esportiva e de jogo limpo e no futuro que é hoje é chamado de FAIR PLAY.

Corria o segundo jogo do Grupo 3 da Copa do Mundo do Chile, em 1962, há exatos 50 anos no último dia 2 de junho no gramado do estádio Sausalito na bonita cidade de Viña del Mar.

O dono do gesto foi Masopust, indicado como melhor jogador da Europa em 62, era o
homem que comandava a equipe da então Tchecoslováquia neste jogo contra o Brasil quando Pelé sentiu uma contusão muscular que o tiraria da Copa do Mundo.

Na época não havia substituições e muitos jogadores contundidos iam jogar na ponta-esquerda para fazer número até terminar a partida.

Há muitas histórias de jogadores que viraram heróis já que ficavam parados no ataque sem nenhuma atenção do adversário porque estavam contundidos e como ainda participavam do jogo não custava nada também chutar a gol se a bola passasse por perto. Muitos deram vitórias importantes para os seus times.

Com Pelé não foi assim. Ficou mesmo fazendo número. Quando sentiu a contusão houve um momento de comoção em todo o estádio.

Silêncio total com Pelé morrendo de dor parado a frente do grande Masopust.

O tcheco poderia dominá-lo facilmente, armar o contra-ataque se aproveitando da contusão do adversário e no entanto ficou esperando o camisa 10 brasileiro tocar a bola  para sair de campo.

E saiu amparado por Masopust que lhe deu o ombro amigo, mas com camisa de outra cor.

O gesto lhe rendeu o apelido de “Cavaleiro” tcheco e aplausos de todos os presentes em Sausalito naquela tarde.

Pelé voltou capengando para o campo e notou que outros jogadores tchecos também não lhe combatiam respeitando a sua dor.

“Nesse jogo, experimentei uma emoção diferente; a do respeito dos tchecos pela minha situação física. O Masopust e o Popluhár, quando me viam com a bola, deixavam que eu concluísse a jogada, não me pressionavam, não tentavam o desarme. Também o lateral Lála, quando passei a fazer número na esquerda, facilitava minha movimentação. Os tchecos também lutavam pela classificação, precisavam da vitória, mas colocavam em primeiro lugar o adversário ferido! Isto foi muito emocionante e é uma das mais gratas revelações do mundial de 1962″, conta no livro “Pelé – O Supercampeão”, de Orlando Duarte.

Masopust conta assim o lance com Pelé: “Vi que o Pelé recebeu a bola na direita do campo e corri até ele, mas quando percebi que o brasileiro estava machucado, brequei a dois metros dele… e esperei ele fazer o passe” e ainda acrescentou ” “Sempre defendi o fair play no esporte”

Não só defendia como mostrava como fazer. Esses foram outros tempos. Tempos em que valia a pena jogar pelo jogo e respeitar a dor do adversário. Tempos que o futebol era apenas um esporte.

Hoje no Memorial da América Latina encontrei Masopust (foto abaixo) convidado pelo Ministro do Esporte Aldo Rebelo para abrir a Exposição sobre o Mundial do Chile.

Foi homenageado e trouxe consigo alguns companheiros do vice mundial de 62.

Lá estavam também os brasileiros bicampeões mundiais Coutinho, Zagallo, Pepe, Jair da Costa, Mengálvio e Gilmar dos Santos Neves, que mesmo em cadeira de rodas fez questão de aparecer.

Foi algo impressionante e nostálgico. Todos já com idade avançada e com muita história bonita para contar.

Fiquei olhando aquele senhor tranquilo carregando nos ombros seus 81 anos, um respeitoso cavaleiro.

Cavaleiro que um dia diante de Pelé também teve seu momento de Rei e deixou uma lição que não envelhece nunca. Por isso é tão respeitado.

Não é à toa que os brasileiros o observavam com tanta reverência e talvez até mesmo com um gesto de agradecimento. Ele merece.

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