O impasse chegou

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado

Lula pode muito, mas não pode tudo. O setor progressista parece não perceber a gravidade do impasse. Estamos lidando com profissionais do esbulho e contra essa gente não basta vociferar platitudes em rede social. Sem luta de fato, eles já levaram uns dedos. A mão é o próximo passo.




O governo Lula sofreu, não há como negar, derrotas acachapantes no Congresso nos últimos dias. Algumas mais importantes do que outras, mas suficientes para acender o sinal de alerta, não o de pânico.

Não é novidade para ninguém que a atual composição majoritária do Parlamento é a mais reacionária da História brasileira recente, já sempre marcada pelo atraso. Nos governos anteriores, o PT teve que conviver com deputados e senadores de maioria direitista, mas não com tanta desvantagem numérica. Mas a questão de fundo atual é mais complexa.

No governo genocida, os parlamentares negocistas e chantagistas avançaram de forma avassaladora na fatia do Orçamento que antes era gerida pelo Executivo. Orçamento secreto, emendas obrigatórias e outros mecanismos tornaram deputados e senadores muito menos dependentes do governo central, sem contar o principal, o dinheiro agora é destinado para pequenas obras e grandes negócios municipais, e Lula ficou com o pires na mão, impossibilitado de patrocinar políticas públicas que são muito mais úteis para os mais pobres e o Brasil.

É inegável também que houve um erro passadista na avaliação política do governo Lula. Imaginou-se que entregando ministérios e órgãos federais importantes a partidos de direita a maioria parlamentar estaria automaticamente assegurada, como aconteceu nos dois primeiros mandatos presidenciais de Lula.

A avaliação equivocada foi também reverberada em sites de esquerda, que vislumbravam um passeio tranquilo com a cessão de fatias de poder. Alardeou-se inclusive que a reconhecida e verdadeira face do Lula sedutor evitaria os problemas verificados no período Dilma. Só que não.

O Brasil mudou para pior. Há hoje uma escória fascista que anda de mãos dadas a políticos direitistas corruptos. A direita mais retrógrada mostrou-se capaz de movimentar ruas e redes sociais com Fake News diante de uma esquerda que parece acomodada depois de derrotar o fascismo na última corrida presidencial. O impasse democrático está instalado, afinal as mesmas urnas que devolveram o Poder central a Lula deram mandatos a esse lixo de Parlamento.

Não existe solução fácil. Um governo que apresenta índices econômicos excelentes, que reinseriu o Brasil no cenário internacional e, entre tantos outros avanços, respeita e defende os valores democráticos está sim acuado. É lógico que Lula não corre perigo imediato de golpe, por dois motivos: a situação econômica é boa (vide o marcado de trabalho ascendente) e, cá entre todos, Lula não é Dilma. É muito mais experiente e tem um colchão de popularidade que o sustenta.

Repetindo que não existe solução fácil, alguns setores progressistas, depois das derrotas em série nas votações recentíssimas do Parlamento, advogam que o caminho é retirar do Ministério aqueles representantes de partidos que votam contra propostas do Palácio do Planalto.

Afinal, se aproveitam de cargos e o consequente manejo de suas verbas e não entregam a mercadoria da contrapartida. Mas qual seria a consequência do ato fruto de raciocínio que está longe de absurdo? A atitude não aumentaria a margem de derrotas na Câmara e no Senado?

A receita clássica em situações de impasse como esse seria colocar gente nas ruas contra o avanço de privilégios que deputados e senadores concedem à elite, tais como nos casos, para ficar só em dois emblemáticos, da manutenção do escandaloso privilégio tributário a setores empresariais ditos grandes empregadores (os donos embolsam a mamata) e o programa estabelecido na pandemia para socorrer o setor de eventos e que se tornou uma usina de sonegação e roubo do dinheiro público.

Mas não há manifestações expressivas contra esses abusos que drenam recursos que deveriam ser destinados a políticas públicas que diminuíssem o fosso imenso entre a maioria pobre de brasileiros e os que sempre mamam no ervanário do tão criminalizado Estado.

Lula pode muito, mas não pode tudo. O setor progressista parece não perceber a gravidade do impasse. Estamos lidando com profissionais do esbulho e contra essa gente não basta vociferar platitudes em rede social. Sem luta de fato, eles já levaram uns dedos. A mão é o próximo passo.

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