O inferno em dezembro

Compartilhe:

Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado – 

A lástima moral da última semana brasileira prosseguirá hoje, na terça-feira, quando o Senado brilhantemente definido como privatizado pela insuspeita Odebrecht votará em segundo turno a PEC que pretende sequestrar duas décadas de cidadania mínima dos brasileiros.




Tudo é rápido e lógico, apesar de aparentemente louco, no governo Temer. Trata-se apenas de impor, a toque criminoso de caixa, goela abaixo das vítimas as “reformas” que, ao fim e ao cabo, sucatearão Saúde e Educação para quem depende de Estado. O outro passo já está agendado: mudanças que praticamente tornarão impossível qualquer possibilidade de aposentadoria medianamente digna. Quem quiser o teto, que estenda a labuta por penosos 49 anos, entre outras atrocidades.

O arcabouço político-legal para aprovação de leis que derrubam direitos está garantido. A nem tão inusitada aliança foi escancarada na semana passada como o acordão entre governo e STF para manter Renan Calheiros na presidência do Senado. É ele Renan que, em troca, imprimiu velocidade padrão Bolt na “discussão      “ da PEC. Comandando a bancada do governo, o notório “resolvedor” empresarial Caju, aquele que segundo o delator da Odebrecht teria levado ao menos R$ 22 milhões em propina.

Nunca tão poucos caras de pau lesaram tantos direitos de tantos milhões. O governo está dizendo ao que veio. É hora de pagar a conta. Epa, pagar não, que a turma só gosta de receber. Digamos que é necessário entregar a mercadoria prometida.

Acordão, delação que faz serviço completo no núcleo duro do governo, não poupando nem o chefe. O que se pode esperar agora? O jogo não está jogado, apesar da aparente tranquilidade para passar a PEC. O domingo e a segunda-feira trouxeram pesquisas desastrosas para o governo Temer. Começou com a revelação óbvia: o beneficiário do golpe está na lama no quesito popularidade. Registre-se, aliás, que o campo do levantamento do DataFolha foi concluído antes que estourasse a porção PMDB-PSDB da Lava Jato. Os números foram devastadores. Seguindo o aprofundamento do desastre econômico, as taxas de aprovação de Temer afundam. Sempre foi, mas agora conseguiu ser mais impopular.

Para completar a fogueira em dezembro, Lula aparece batendo todos os tucanos possíveis num cenário de eventuais candidatos na disputa presidencial em 2018. Foi o único que cresceu. Só perde, em segundo turno, para Marina Silva, mesmo assim encurtando bastante a distância a distância, que já foi de 21 pontos percentuais e agora caiu para 9.  É uma proeza para quem diariamente é apresentado na TV como corrupto. Uma parcela significativa de brasileiros prefere, apesar do bombardeio, ficar com o presidente da República que apostou na inclusão social.

Muito provavelmente, Lula será impedido de concorrer em 2018. A turma do golpe não seria louca (não se fala aqui em qualquer conceito de Democracia) de deixar Lula ir à TV, em campanha,  contar sua versão e inevitavelmente diminuir a atual rejeição. No quadro de hoje, por incrível que pareça para quem imaginou esmagá-lo, Lula é favorito. Logo, sua candidatura não será permitida.

De prático, existe um sentimento de descontentamento gigantesco da população. Não há como um governo sem chancela de voto impor um ajuste como o proposto. A solução lógica para o impasse que já está desenhado seria a convocação de eleições diretas e gerais. Não é impossível. Mesmo se Temer atravessar a ponte para 2018, ao contrário do que se tem dito, é possível sim a realização de diretas. O caminho é até simples (no sentido legal): basta a aprovação de uma emenda e a chancela do STF. E nosso tribunal, sabemos, é acima de tudo pragmático. Se houver mobilização popular…

Eis aí o drama para a esquerda. Não existe ainda fermentação nas ruas, pela esquerda, para impor uma derrota aos que se instalaram no poder com o golpe. Por vários motivos, entre os quais a paralisia política das direções partidárias, luto excessivo e incapacidade de ler que muita gente não se anima com a reiteração, principalmente por parte de parlamentares do PT, de práticas e conchavos que afastam a militância.

Os efeitos perversos da PEC, quando aprovada, só serão sentidos a partir de 2018. Mas, para desespero do governo e dos que sofrem com o efeito, a Economia não vai respirar em 2017. O emprego não voltará, infelizmente para os milhões que são atingidos por esse flagelo.

O ás, para os dois lados oponentes, é a reforma da Previdência. É nela que o mercado joga suas fichas. Mas é aí que o chicote social enfrentará maior resistência. É efeito imediato. Mexe com o cotidiano do trabalhador e de sua família. O maior troféu da política de desmonte de direitos pode se tornar a alavanca para expressar o imenso descontentamento popular que já se manifesta. O ano de 2017 não será para fracos.

O Bem Blogado precisa de você para melhor informar você

Há sete anos, diariamente, levamos até você as mais importantes notícias e análises sobre os principais acontecimentos.

Recentemente, reestruturamos nosso layout a fim de facilitar a leitura e o entendimento dos textos apresentados.
Para dar continuidade e manter o site no ar, com qualidade e independência, dependemos do suporte financeiro de você, leitor, uma vez que os anúncios automáticos não cobrem nossos custos.
Para colaborar faça um PIX no valor que julgar justo.

Chave do Pix: bemblogado@gmail.com

Categorias