Por Claudio Lovato Filho, jornalista e escritor –
O jovem repórter era de uma timidez patológica. Ao menos assim parecia.
Isso acabou levando a uma curiosidade geral e crescente naquela redação: como podia aquele garoto quase mudo voltar com suas sempre robustas e cada vez mais elogiadas entrevistas?
Os menos resistentes à comichão provocada pelo ignorado e não sabido partiram para cima dos fotógrafos que costumavam acompanhar o novato: “Cara, como é que ele faz?”, era o tom e o conteúdo da pergunta, com irrelevantes variações semânticas.
Esses investigadores do desempenho alheio logo constataram que o imberbe jornalista dava seu jeito de afastar os fotógrafos quando se preparava para começar as entrevistas. Com sua voz baixa e dicção lenta sugeria-lhes que fossem fazer fotos do ambiente, para “contextualizar o cotidiano do personagem”, e só depois, findada a entrevista, os chamava de volta para fazerem as fotos da fonte.
O tempo passava e o noviço parecia manter-se convicto da necessidade de cultivar seu apego à introversão e ao silêncio: mesmo durante os cafezinhos na cantina do jornal ou no bar onde os jornalistas daquela redação se reuniam depois dos fechamentos, ele era aquele que ocupava o lugar mais discreto à mesa, aquele que só falava em resposta a alguma pergunta direta, aquele que, quando todos já estavam entregues à eloquência etílica e ao relaxamento tão ansiado, ia para o balcão para escutar o que tinham a dizer um ou outro funcionário do bar ou algum cliente solitário.
Suas ótimas reportagens iam se sucedendo e ganhando capas, mas era nas entrevistas do tipo “pingue-pongue” que seu talento mais se evidenciava. Sua competência para as missões de perguntas e respostas era assombrosa.
Um dia, sem que tivesse havido qualquer tipo de sinal relacionado a isto, chegou à redação a notícia do pedido de demissão do jovem repórter. Aquilo era completamente inesperado até mesmo para o seu editor de “Geral”.
Passou-se muito tempo até que aquele jornal voltasse a publicar “pingue-pongues” tão vibrantes e densos e corretos e bem-acolhidos pelos leitores. Alguns dizem que, da mesma qualidade, jamais voltaram a acontecer.
A grande lição deixada pelo quase-menino que entrava e saía da redação sem ninguém perceber foi, porém, entendida pouco tempo depois de sua despedida: aquele repórter de rosto ainda povoado por espinhas descobrira cedo na vida o que há de mais importante para o bom exercício de seu ofício: saber ouvir.
E essa lição – em coerência com o que de mais importante está contido nesta pequena e despretensiosa história – foi amplamente discutida, parabenizada e contestada com irrefreável verborragia naquela redação.