Por Gregório Duvivier, Folha –
Em geral tento escrever pra quem não concorda comigo.
Gosto de pensar no leitor de camisa polo e mocassim, batendo panela numa varanda do Leblon.
Essa semana, no entanto, queria falar com os semelhantes.
Sim, com você mesmo. Você que frequenta o carnaval de rua, você que é de humanas, que nunca sabe que dia do mês é hoje, às vezes não sabe sequer o mês, você que confunde a fórmula de Golgi com o complexo de Bhaskara, você que foi às ruas em 2013 pelos 20 centavos, você que mesmo com pressa e sem dinheiro sempre acaba comprando fanzines de poesia na porta do museu (“curte poesia?”), você que não come carne ou tá tentando parar de comer, você que ama o Mujica tanto quanto ama beijos triplos e férias em Moreré: sei bem o que você tá sentindo.
Também estou tentando entender por que é que as mesmas pessoas que não protestaram contra o aumento de tarifa, contra Belo Monte, contra Eduardo Cunha estão hoje nas ruas pedindo a queda de Dilma.
Afinal, das centenas de nomes da lista da Odebrecht, nenhum deles é o da presidenta.
Por que raios querem derrubar a única pessoa que, até o momento presente, não está sendo investigada? Porque, você talvez dirá, são fascistas que não toleram a distribuição de renda e as conquistas sociais promovidas pelo PT e por isso aplicam um golpe branco. Será?
Milhões de pessoas foram às ruas (dentre elas, aposto, muita gente que você ama) pedindo o impeachment. O Brasil não tem milhões de golpistas. Tem uma centena de dementes que pede intervenção militar? Tem. Mas a imensa maioria só tá mesmo muito mal informada —basta ver a qualidade das revistas semanais.
Vale lembrar que do lado de lá tem gente que acha que você ganhou R$ 30 para defender um governo corrupto. Tem gente que acha que você quer implantar uma ditadura comunista.
Tem gente que acha que você defende direitos humanos porque gosta de bandido. Não cometa com eles a mesma generalização imbecil que estão cometendo com você.
Nessas horas, é preciso fugir do fascismo midiático e resgatar um pouco de empatia e paciência. Empatia para ver no outro um igual, digno de ser convencido. Paciência para explicar que um impeachment, agora, equivale a botar a raposa pra cuidar do galinheiro.
Por trás de toda camisa polo, bem ali, na altura do cavalinho da Ralph Lauren, também bate um coração —um coração que tem todo o direito de estar insatisfeito.