Por Claudio Lovato com fotos de Edu Andrade, em Museu da Pelada –
À noite. Antes de dormir. Lembra e agradece – a Deus, à vida. Por ter estado lá. Por ter feito aquilo. Por aquilo ter acontecido com ele. Copa do México, 1986. Brasil contra Irlanda do Norte. Um petardo lá de fora da área, lado direito do campo. Pat Jennings encoberto. E o lateral-direito do Brasil correndo de braços abertos em direção à torcida, em irrefreável alegria, como se não acreditasse no que acabara de fazer, mas entendendo de uma forma muito intuitiva que depois daquilo sua vida jamais voltaria a ser a mesma. E no jogo seguinte, contra a Polônia, outro golaço, o nosso lateral invadindo a área a dribles e mandando um chute cruzado, no alto, e lá se foi o goleiro Mlynarczyk, outro gol de ousadia, técnica e habilidade, outro gol de quem não tem medo de ser feliz, outro gol de Josimar.
– Penso naqueles gols todos os dias, quando me deito, antes de dormir! – diz Josimar Higino Pereira em entrevista ao Museu da Pelada, em Brasília, onde passa a maior parte do tempo.
Ele e a esposa, Sandra, têm casa em Aracaju e São Luís, mas o Distrito Federal há seis meses virou o QG da família, em razão, em grande parte, da atuação de sua empresa de marketing esportivo.
Josimar está em paz, está feliz. É grato, acima de tudo. O bom humor e o sorriso aberto não deixam dúvida sobre isso, o mesmo sorriso do menino nascido em 19 de setembro de 1961, em Pilares, no Rio de Janeiro, criado na Cidade de Deus, e que, em 1982, subindo da base do Botafogo, deixou a meia-direita, a camisa 8, para virar lateral e assumir a camisa 2, a que era de Perivaldo, porque o técnico Jorge Vieira e o Botafogo precisavam que assim fosse.
E assim foi. E foi tão bem e jogou tanta bola que, em 1986, às vésperas do início da Copa, com o corte de Leandro e com a lesão do reserva, Édson, Telê chamou Josimar e lhe entregou a camisa 13. A Copa não veio, mas o Brasil ganhou definitivamente um presente chamado Josimar.
– Nós, os mais novos, tínhamos que correr por eles! – diz Josimar, referindo-se a Falcão, Sócrates, Zico e aos outros veteranos o time.
– Mas eu queria mais é correr, era uma honra estar ali, ao lado daquelas feras! – ele relembra, com os olhos meio molhados ao tentar explicar o que significou para ele ter jogado com aqueles gênios dos quais era fã de carteirinha.
E então chegou 1989, o ano que Josimar e todos os botafoguenses não cansam de celebrar no lugar mais nobre da memória e do coração: o ano do Campeonato Carioca, depois de 21 anos de fila.
– Nós nos reuníamos lá em casa, fazíamos churrasco e conversávamos sobre os jogos, sobre como o outro preferia receber a bola…
A casa de Josimar virou uma extensão do vestiário, com as presenças infalíveis e sempre bem-vindas do técnico Valdir Espinosa e do presidente Emil Pinheiro. E aquele abençoado 1989 também foi o ano da conquista da Copa América, com Josimar lá na lateral, com a sua ousadia, sua habilidade, sua alegria; Josimar sendo feliz e fazendo gente feliz.
– É assim que tem que ser. A gente só é feliz de verdade quando faz os outros felizes também! – ele diz. “
Falou e disse, Josimar.
E ele falou e disse muito, muito mais, na entrevista que você confere aqui no Museu da Pelada.