Não, não é o Petrolão. (nem o Mensalão)
Por Leandro Demori, compartilhado de seu Blog
Chamam de “Orçamento Secreto”.
Na imprensa, virou “Pacote de Bondades”.
Está na hora de rebatizar essa criança. Seu nome é “Compra de Votos”.
Assim mesmo, à luz do dia, estão roubando seu dinheiro. Dá pra dizer que legalizaram os batedores de carteira, que acabaram de se reeleger.
O que foi feito no Brasil é um escândalo de corrupção de dimensões ainda não estabelecidas. Nada – repito: NADA – chega perto do que está rolando nesse momento. O Governo VENDEU o país para os parlamentares daquilo que se conhece como Centrão, um grupo de cretinos que fazem escolhas puramente políticas sobre o dinheiro da União com vistas somente a seus próprios interessses. Esse é, sem dúvida, o maior escândalo de corrupção da história do país, e isso não é uma hipérbole.
Aos números
No primeiro ano de mandato, Bolsonaro sancionou R$ 30 bilhões em emendas do orçamento secreto. Ele tinha a opção de vetar os recursos, mas decidiu autorizar o pagamento de 100% das verbas indicadas pelo Congresso. Com isso, em três anos, o presidente entregou ao Congresso uma decisão sobre o que fazer com R$ 65 bilhões, que deveria ser de seus ministros. (CNN)
A Lava Jato diz ter recuperado 6,28 bilhões que foram roubados da Petrobras. Em seu mandato, Bolsonaro e o Centrão produziram um rombo de mais de DEZ LAVA JATOS. E que tenha sido de modo “legal” torna tudo ainda pior, porque esse crime sequer é passível de punição.
Metade do dinheiro que deveria ir para as cidades do Brasil foi parar em apenas 7,6% dos municípios. Um escândalo colossal capaz de operar milgares eleitorais. Veja por exemplo o caso de Gilberto Gonçalves, do PP. Ele é prefeito de Rio Largo, nas Alagoas.
Gilberto Gonçalves foi presenteado com 15 milhões em emendas do orçamento secreto apenas em 2021. O que foi feito desse dinheiro? Provavelmente sumiu em um ralo de roubo.
Qual foi o efeito desse investimento assinado por Arthur Lira na cidade de Gilbertinho? Ele próprio, Arthur Lira, foi o deputado federal mais votado no município (17,19% dos votos). Gabi Gonçalves, filha do prefeito e do mesmo partido de Lira (Progressistas) fez 24,87% dos votos locais para deputada estadual – foi eleita.
A matemática, meu filho
E equanto Lula fez 56,50% dos votos no estado, contra 36,05% de Bolsonaro, na cidade onde Lira investiu seu orçamento secreto a margem foi muito mais estreita: 50,74% para Lula e 41,75% para o Jair. São milhares de cidades Brasil afora no mesmo esquema. Funciona pra caralho.
Claro que funciona.
O Claudio Weber Abramo – um pioneiro e notável jornalista de dados, já falecido – fez essa relação há muitos anos: existe um custo médio por voto no Brasil. Se você gasta a grana suficiente, se elege. Em um estudo completo, ele demonstrou em uma tabela quanto custaria cada voto em todos os estados do país, como se fosse um leilão. Quer se eleger? É só fazer as contas.
Precisa de X mil votos? Gaste Y mil reais. É uma fórmula. Não funciona sempre, pode sair mais caro do que o previsto, mas se você gastar mais, tem mais votos, essa é a lógica. O atual governo institucionalizou o sistema de compra direta de votos – de novo, esse é o maior esquema de corrupção da história.
apoia.se/leandrodemori @demoriFã ou hater? Mensalão era mais barato. Valor Econômico @valoreconomicoPara Lira, sociedade terá que escolher entre orçamento secreto e volta do mensalão https://t.co/xw8kLhPYI5October 4th 2022118 Retweets1,047 Likes
E se engana quem diz que o orçamento secreto “ao menos é investido em prol da população”, ao contrário de outros escândalos, como direi, mais clássicos. Esse dinheiro, que deveria ser gasto pelo Executivo com bases técnicas, está sendo usado para matricular alunos fantasmas na base eleitoral do ministro da Casa Civil, para roubar dinheiro da Saúde e da Educação no curral eleitoral do presidente da Câmara, para arrancar dentes inexistentes e faturar com fraudes, e para outras tantas barbaridades. Como o critério é a simples compra de votos, pouco importa como tudo será gasto.
Porque desemboca em um só lugar: na compra de votos. É uma fraude eleitoral de manual proporcionada por um Governo fraco que precisou do esquema para não tomar um impeachmente. E, agora, usou do mesmo esquema para sequestrar votos e chegar no segundo turno. Enquanto isso, cidades “inimigas” ficam sem verba, e a população que pague pelos pecados de Brasília.
Portanto, antes de se falar no “Congresso Bolsonarista” eleito este ano, vamos deixar uma coisa bem clara: falemos em COMPRA DE VOTOS.
Querem ver?
Partidos que mais levaram dinheiro do orçamento secreto: PP, PL, PSD, União Brasil e Republicanos.
Partidos que mais elegeram deputados (exceto o PT, que tem base eleitoral própria): justamente PP, PL, PSD, União Brasil e Republicanos.
A Democracia brasileira foi vendida a esses abutres. Estamos em estado de emergência.
