Washington Luiz de Araújo, jornalista
Ele se dizem do bem, “gente de bem”. Acham que têm todos os méritos por terem nascido fora do morro, da favela, da periferia. Não são todos, ainda bem. Fazem muito barulho na velha mídia quando se acham agredidos, ofendidos por palavras de ordem, por serem chamados de golpistas, por ouvirem, verem e lerem que a corrupção começa na classe deles. Eles são “pessoas de bem” que penduram bonecos de Lula e Dilma, enforcados, em viaduto; perseguem e fazem aqueles que estiverem vestindo camisa vermelha; mandam umas presidenta da República TNC numa abertura de campeonato mundial de futebol, mas xingam também nas redes sociais, fazem adesivos pornográficos com a presidenta Dilma, inventam mil boatos sobre o ex-presidente Lula, vão xingar e desejar a morte em hospitais e vão desejar o inferno nos velórios.
Sim, são todos “gente de bem”. Pelo menos é assim que se consideram. E é assim que a velha mídia os considera. São “gente de bem” que estampa o ódio, mas um ódio anda bem vestido, perfumado, que dirige com carrão.
Ah, tem aqueles que também são terceirizados para o ódio. Aqueles que têm tudo para se solidarizar com o discriminado, mas que prefere se omitir ou berrar, disfarçando que é também “gente de bem”.
Eles se indignam quando uma jornalista, mesmo exagerando de que foi agredida verbalmente num avião, põe a Globo no trombone, utilizando o confortável veículo onde trabalha para mentir. Se indigam com quem a lhe pega de tailleur curto.
Mas não se indignam quando uma criança negra é escorraçada num shopping, fecham os olhos para os estupradores, desde que sejam “gente de bem”. Não se indignam quando um preto e pobre é morto de forma violenta e covarde nos arrabaldes da vida. É só mais um “lixo humano”, como se referiu o atual prefeito de São Paulo, um baluarte dos “gente de bem”, que não paga IPTU, que é campeão de multas no trânsito e manda jogar água fria, tirar cobertores e incendiar locais onde vivem usuários de crack.
São todos “gente de bem”, que apoiaram Aécio e que agora se dizem desapontados, mas que a culpa não é só dele, afinal são todos farinha do mesmo papelote.
“Gente de bem” que apoiou, vociferou, bateu panela, aplaudiu o golpe e que agora vem com o papo de que são todos iguais.
E assim, com esta “gente de bem”, o país que eles dizem ser só deles, vai de mal a pior. O país não é mais nosso e nem deles. Eles, “gente de bem”, que adoram Miami, estão vendo e aplaudindo o país ser anexados aos Estados Unidos. Estão dando não só os seus anéis, mas também os nossos dedos para continuarem ostentando que são “gente de bem”.
Eles usam Black-tie, quando podem, mas estão com os fundilhos furados. “Gente de bem” mal caráter, hipócritas, agressivos em suas ações, mas que são uma “massa cheirosa”, como disse uma outra jornalista do “bem”.