O medo do amadurecimento

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Celso Sabadin pelo Facebook – 

Outro dia Luiz Zanin postou por aqui um texto dos mais pertinentes sobre cabines de imprensa, sempre lotadas quando se exibem blockbusters, e sempre vazias quando o filme mostrado é, digamos, um “não blockbuster” (não curto muito expressões como “filmes de arte” ou similares). Há vários vieses que esta questão levanta, entre eles um que tem me chamado bastante a atenção: o medo do amadurecimento.




Explico com um exemplo. Outro dia, numa reunião familiar, eu escutava um bate papo com umas 7 ou 8 pessoas entre 20 e 30 anos. Todos comentavam animadamente sobre os filmes mais recentes que haviam visto, quais gostaram, quais não gostaram e seus motivos. Tratava-se de um grupo bastante antenado, com senso crítico, e frequência ao cinema (cinema mesmo, de tela grande) igual ou superior a uma vez por semana. Porém, me chamou a atenção o fato de todos – eu disse todos – os filmes comentados naquela rodinha terem classificação indicativa abaixo dos 18 anos.

Em determinado momento, intervi: “Vocês assistem a filmes de adulto?”. Todos me olharam com um certo ar de espanto. Notei que talvez eu não tivesse sido claro e repeti: “Filmes para maiores de 18 anos, que não sejam comédias ou aventuras, por exemplo, vocês curtem?”.

O ar de dúvida do grupo parece ter aumentado. Me deu a impressão que eles simplesmente não tinham a menor ideia do que eu estava falando.

Tenho percebido que, para o público em geral, filmes que não sejam comédias, terror ou aventura simplesmente não são feitos. Eles não existem, ninguém sabe deles. Ninguém sabe nem onde eles são exibidos, nem se são exibidos, já que não existem. Igual enterro de anão. Algumas pessoas daquele grupo achavam que “Reserva Especial” era um restaurante, e sequer conheciam o conceito de “cinema fora de shopping”.

Na verdade, todos são vítimas de processos sociais e mercadológicos que têm imputado nas mentes das gerações mais recentes que é proibido amadurecer. Que devemos ser eternamente jovens, bonitos, descompromissados, divertidos e descolados. Com qualquer idade.

Que o envelhecimento é um horror a ser combatido a todo custo, nem que seja o custo exorbitante da última geração de celulares que, quando ostentados, farão seus donos parecerem mais conectados à modernidade, quase imortais, posto que não envelhecerão.

É toda uma geração – ou mais – de pessoas que não vêm o menor sentido em assistir a um filme que não faça rir ou que não injete adrenalina no sistema nervoso. Repare: vários veículos publicam suas matérias sobre cinema na editoria tristemente chamada de “entretenimento”.

Hoje, cinema é apenas feito para entreter, espantar o tédio, para passar o tempo. Cinema, Hopi Hari e Pokemon Go viraram a mesma coisa.

As cabines de imprensa são apenas isso, o reflexo do incessante martelar mercadológico de corporações que conseguiram vender a ideia que cinema é apenas aquilo que se vê enquanto se come a pipoca. Pensar não é uma opção.

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