ESPORTE
Por Claudio Lovato – jornalista, escritor, autor; entre outras obras de ” O batedor de Faltas”
O homem eo menino estão sentados em cadeiras de plástico, lado a lado, no estádio recém-reformado.
O menino pergunta:
“Pai, todo mundo se aposenta?”
O pai responde:
“Claro, todo mundo. Quer dizer, quase todo mundo. Tem aqueles que trabalham até morrer”.
O menino olha para a frente. Os times ainda não entraram em campo. O coração bate forte.
“O Hélio José vai se aposentar um dia, né?”
Hélio José é o centroavante do time do menino e do pai.
“Vai”, diz o pai.
O menino respira fundo. Suspira uma vez, duas vezes. O pai olha para ele, mas finge que não olha. O menino sente um tranco no peito. Ele diz:
“Pai…”
O homem olha para menino, de soslaio, não olha diretamente para ele.
“O quê?”
O menino diz:
“Eu não quero que você morra”. Ele diz isso e começa a chorar.
O pai olha para a frente, não olha para o menino. Pigarreia. Não sabe o que dizer.
O time deles entra em campo. O pai diz:
“Não se preocupe com isso”, e se cala, porque não sabe o que dizer além disso.
A torcida aplaude e grita e pula, uma histeria.
“Vamos ver o jogo”, diz o pai. “Tá bom?”
O menino chora. Não consegue evitar . Queria fazer o tempo parar. Mas o tempo nunca para. É isso o que ele está aprendendo. Ele chora e o jogo está para começar e o pai não sabe o que dizer, então não diz nada, até que Hélio Josá pega na bola e, por milagre, por um instante, a sombra sai de cima da cabeça do menino e ele grita “Vai!”, ele grita “Vai”, ele grita “Vai!”, ele grita “Vai, Hélio José!”