O mercado definitivamente enlouqueceu

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Essa ignorância coletiva subsiste unicamente pela incompetência absurda da mídia em questionar essas tolices, pelo receio do contraponto

Por Luis Nassif, compartilhado de seu Blog




Definitivamente o mercado enlouqueceu. Seus porta-vozes mais ostensivos perderam qualquer noção de realidade.

Na CNN, o economista entrevistado diz que o país está no caminho certo, desde que não atrapalhem o Banco Central. Com a Selic no nível atual, a economia deverá cair mais ainda e fechar o ano com crescimento de apenas 1%. Isso ocorrendo, a inflação estará contida, por falta de demanda, e o país poderá voltar a crescer.

Esse pessoal não vale a orelha de um livro de economia. Para o país voltar a crescer, tenho que matar a economia para que a inflação seja contida. Se a única forma de conter a inflação é manter a economia morta, qualquer crescimento traria a inflação de volta, não é assim? Então, o único objetivo da política econômica seria manter a economia em estado de suspensão, para que a inflação ficasse contida.

São incapazes de pensar uma alternativa sequer, de esboçar uma crítica sequer contra uma taxa básica de juros que não encontra paralelo em nenhum outro país do planeta, com exceção do México.

Em artigo na Folha, o novo diretor da CNN, com o auxílio de duas assessoras, defende a lógica da Selic, argumentando que é mentira que o país pratique a maior taxa de juros do planeta. A taxa a ser considerada é a real – descontada a expectativa de inflação. E a taxa real projetada brasileira é menor que a do México. Logo, não é a primeira, é a segunda, dentre dezenas de países.

Enquanto isto, o dono da CNN, sufocada em todas suas frentes de negócios – imobiliários e financeiros  –  por essas taxas de juros, mesmo tendo um canhão na mão, limita-se a militar… no Twitter. Escreve tuítes, primeiro pedindo desculpas por criticar o BC. Depois, dizendo que a taxa de juros vai matar a economia.

No Valor, o guru do mercado, Luis Stuhlberger, prevê uma crise brava de crédito. Qualquer ser racional diria que é em função da taxa básica de juros e do tombo das Americanas, que compromete o mercado de crédito securitizado. Mas precisamos falar para nossa bolha. Logo, a conclusão é que o problema maior não são as taxas de juros, mas quem ousa criticar os responsáveis pela taxa de juros.

O próprio mercado está sendo sufocado por essa loucura, com gestores de recursos enfrentando um aumento gradativo dos saques, com o investidor procurando a renda fixa e os títulos públicos. Mas não podem criticar publicamente o mercado, porque significa alimentar os inimigos. E subdesenvolvido que é subdesenvolvido tem que pensar todas as questões sob a ótica futebolística: é Fla contra Flu, e não venha complicar a discussão.

Essa ignorância coletiva subsiste unicamente pela incompetência absurda da mídia em questionar essas tolices, pelo receio em ouvir economistas que fazem o contraponto. O repórter conversa com empresários de vários setores, colhe depoimentos, capta o estado de espírito, sabe que vem uma recessão pesada pela frente. Mas não pode colocar esse sentimento e essas informações em uma reportagem, porque não daria manchete e ele ainda seria mal visto pelo editor.

Dia desses conversei com um operador que está se mudando para a Itália – graças ao home office. Vai para uma cidade tranquila. Poderia alugar um bom apartamento, mas o financiamento sai pelo mesmo preço do aluguel. Comprovando renda, não há necessidade de entrada. E a taxa de juros é de 3% ao ano. Portanto, vai comprar o apartamento, pagando menos do que pagaria por um aluguel em São Paulo.

Mas, para os idiotas da objetividade, o que interessa é repetir até a exaustão as relações absurdas das metas inflacionárias, as masturbações em torno da taxa de juros neutra, do PIB potencial. E tratar essa loucura como se fosse ciência. 

Lembram muito o bolsonarista que se agarrou na boleia do caminhão e não sabia como escapar da armadilha.

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